"Hello, Darkness, My Old Friend".

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Encontro.

Uma das minhas especialidades é me livrar de coisas desnecessárias. Algumas até possuem serventia, mas eu acabo me convencendo de que avançar é mais fácil quando se leva apenas o essencial. Assim, hoje dei adeus à maletinha rosa das Meninas Superpoderosas (onde guardar tanto rímel agora?), à caixinha de plástico amarela em que eu depositava minha mesada, quando eu era criança; e a um coraçãozinho de alumínio onde eu tentava, sem sucesso, deixar as tarrachas dos brincos. Junto com tudo isso, foram embora outros tantos objetos inúteis, e eu fiquei com mais espaço para coisas novas - eis a vantagem.

Enquanto me ocupava dessa triagem no armário, achei uma folha escrita há mais de dois meses, cujo conteúdo estava, obviamente, destinado a este blog. Achei injusto desperdiçar uma postagem preparada desde tanto tempo e, por isso, ei-la aqui:

Estou sendo obrigada a me entregar completamente. Mas eu não tenho mais nada para oferecer.

Meu desempenho acadêmico sempre foi muito bom. Nunca me preocupei com notas. "Não tenho outras tarefas, tenho obrigação de ter boas médias" - digo, para me cobrar. Só sei viver se aceitar meus próprios desafios, e a intransigência é tanta que, frequentemente, perco as apostas que me faço.

Talvez esses sejam alguns dos motivos que me fazem ter certeza de que meu trabalho não está ficando bom como devia. Mas, vou tentar não pensar nisso agora.

Estou tão cansada, meu Deus! Durante três anos, me desesperei com trabalhos, provas, atividades, o diabo a sete (como Pai diria). Talvez, secretamente, eu soubesse que tudo ia dar certo. Que eu ia conseguir, afinal. Mas sempre preferi acreditar que ia tirar zero nas provas; que minhas Atividades Complementares seriam uma vergonha; que meus trabalhos seriam uma negação; e que eu ia pegar DP.

Tudo isso nunca passou de um pesadelo. E, mesmo assim, é impossível contar quantas lágrimas essas dúvidas me custaram. E eu ainda tenho muito para pagar.

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E é tudo, não havia mais nada escrito.
Foi bom ter encontrado essa página. Foi bom voltar a desconfiar de mim - tenho me deixado em paz, ultimamente.
Entre as razões dessa trégua, estão:
coleção nova da Kipling; coleção nova da Melissa; e leituras impagáveis (nas últimas semanas: Gabriela, Cravo E Canela; Contos Inacabados; O Amante; e As Mil E Uma Noites). Como se vê, tenho coisas bem melhores para me ocupar. Amém.



terça-feira, 19 de julho de 2011

Cartas.

Eu colecionava papéis de carta. Não faz muito tempo. Conservo a maioria deles, obviamente - não tenho destinatários. Para falar a verdade, até hoje não consigo resistir às papelarias.

É tão bom escrever para quem se gosta. Mesmo sem assunto. Você pensa na pessoa, pega a caneta que deixa sua letra bonita, pega o papel de carta todo decorado (e fica morrendo de pena de usá-lo), e vai enchendo as linhas. Geralmente, nada de extraordinário - mas que será uma lembrança para o resto da vida. Foi por isso que comecei a enviar cartas periódicas para Mãe e Pai. Antes, eu escrevia uma carta para cada um. Agora, escrevo uma só: fica subentendido que um pula a parte sobre bolsas, sapatos e vestidos, e outro não lê a parte sobre futebol (e, por falar nisso: São Paulo F.C., o que está acontecendo?).

Hoje, parece estranho escrever. Mas eu gosto de me sentir no passado, gosto de escrever, e enfim posso dar utilidade aos meus papéis de carta. O principal, no entanto, é que certos vocábulos, quando escritos, transmitem muito mais emoção do que quando falados. É o que eu acho.

Uma vez:

-Minha filha, seu pai chorou o dia inteiro.

[Sobressalto].

-Mãe, o que foi?

-Ele leu a carta que você mandou, chegou hoje.

-Aaah, Mã. Não era essa a intenção! E você?

-Li e chorei também.

[Pais...]


Enfim. Eles não têm tempo de me responder, é uma pena.

Há tempos, recebi uns cartões de uma amiga da Alemanha. Guardei dentro das "Folhas das Folhas de Relva" - o que prova o quanto eles são importantes para mim. É tão bom - abro o livro, e lá estão, entre as palavras de Whitman, aquelas que vieram de tão longe, escritas pela Sheila, e que eu releio junto com as do poeta de que Mr. Keating tanto gostava.

Aliás, com sua licença, farei isso mais uma vez agora. E até a próxima postagem.



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Futuro.

Assumo de uma vez por todas: é meu diário, e não do PREX. Por mais que eu preze esse trabalho, sei que ele já regulou demais minha vida (e vai continuar assim, eu sei o quanto ainda vou chorar e me desesperar. Mas não quero pensar nisso agora).

O que eu vou viver até que minha vida desemboque no período que eu quero? Quanto falta para chegar lá? Pouco, como parece? Ou ainda vou entender Ulisses melhor do que nunca?

Agora eu tenho urgência por algo que, há tempos, venho deixando de lado - é como encontrar uma coisa que julgamos tão importante, mas tão importante, que relegamos ao esquecimento de uma gaveta, achando que ainda não é a ocasião certa para usufruir daquilo. E a minha gaveta já está cheia demais.

No final do ano (muito tempo ou pouco tempo?), o Projeto que nomeia este blog estará concluído e aprovado (assim espero). Eu terei longas, longas férias. As melhores que alguém pode ter. E depois? Depois, não vou mais querer meu quarto branco, ok, Mãe? E vou precisar desesperadamente de uma caixinha de música, não importa quanto trabalho eu tenha para encontrar uma que seja perfeita. Poucas delícias são maiores do que dar corda em uma caixinha de música.

Por um tempo, quero que meus pais esqueçam que eu tenho vinte anos. Mãe vai pentear meu cabelo antes que eu vá dormir. Pai virá me acordar, nos dias em que ele estiver em casa até mais tarde. Mãe vai comigo comprar Melissas (isso, sim, é um sonho). E eu vou deixar que ela escolha as que eu vou levar - Mãe sempre sabe. Pai e eu iremos ao Castelão, andaremos juntos nas estradas cheias de poeira, debaixo do sol sem piedade, rindo de coisas simples. Afinal, todos os cearenses são humoristas. Nem todos vivem disso, é claro. Mas todos são humoristas desde o berço, isso é certo.

Quanto tempo vai levar até que eu vá para Pasárgada?


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Certeza.

Eu queria que tudo que eu faço fosse melhor. Desde sempre tive a sensação de que não tenho a habilidade suficiente para dar aos meus projetos algo de especial. Lamento a falta de qualidade, principalmente, do que eu escrevo (vide as aliterações da primeira frase). Mas até as menores coisas parecem do avesso depois que passam pelas minhas mãos. Quase um dom às avessas.

Um ideal é inalcançável. "Ideal" é a perfeição que não se pode atingir completamente. É possível, com muita dedicação, chegar perto - mas nunca viver sua plenitude. Sei que é assim, e não consigo aceitar: não tolero nenhum meio termo.

Vivo perseguindo um ideal e, provavelmente, nunca chegarei a vivê-lo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Remédio.

"Para, meu coração. Deixa o pensar na cabeça".

Assim disse Fernando Pessoa. Na verdade, um de seus heterônimos - li "Mensagem" (pela milésima vez) no sábado. Mesmo sabendo que não tenho mais tempo para essas coisas.

A aflição me deu insônia. Não posso mais suportar o sentimento permanente de "não está certo"; a voz que diz "você devia ter se esforçado mais, Leila. Agora, seu trabalho vai ser reprovado e você vai ficar mais e mais tempo longe de casa". O sono acumulado das duas semanas quase sem dormir não é suficiente para que eu possa adormecer em paz.

Não nego que estar aflito pode ser uma motivação. Mas o preço, meu Deus, o preço é alto demais. E eu estou farta de fingir que eu aguento.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Conhecimento.

Ontem, fiquei pensando no quanto é possível aprender com as pessoas ao nosso redor. No conhecimento que a vida nos dá a chance de adquirir, e desprezamos.

Tenho tanto para aprender! Inclusive com pessoas que nunca foram à escola por um dia sequer. Talvez eu nunca consiga alcançar nem um terço da ciência de Rogério - vaqueiro desde a infância. De Chico Leão, que jamais pôs os pés fora do Nordeste e sempre viveu da agricultura. Do falecido Otílio - que via os produtos da modernidade com um assombro ingênuo e sincero de que poucos filósofos seriam capazes.

Sei que não tenho comparação com estas pessoas.

E foi pensando assim que, finalmente, consegui me encontrar em um meio-termo. Sabe, eu gosto de ler Dostoiévski. Mas quão melhor é ler Dostoiévski nos alpendres da minha casa! No sertão, cercada pela aridez deslumbrante - em um lugar onde noções teológicas e filosóficas não são vitais e a vida acontece plena na sua simplicidade.

Quando o livro acaba ou a leitura cansa, posso ficar olhando pro céu, que fica laranja todos os fins de tarde, quando o sol se põe. E ter a certeza de que "a vida é uma agitação feroz e sem finalidade", mas, mesmo assim, há tantas coisas apreciáveis nela, e que são ainda mais bonitas porque não precisam de compêndios científicos.

Isso é viver, minha gente. E viver pode ser tão bom quanto uma manga rosa. Daquelas que você tira do pé e come ali mesmo, na sombra da mangueira. Olhando para os passarinhos, que não são racionais, e entretanto sabem apreciar melhor do que nós uma manga madura.

(Alberto Caeiro, você está me manipulando!)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mestres.

Essa será mais uma noite que irei atravessar incrementando meu briefing. Portanto, tenho que postar antes que comece a maratona. Escrevi ontem, esperando a aula começar. Lá vai:

Hoje não tem aula e ninguém me avisou? Por acaso explodiram o campus? Algum vírus altamente contagioso foi detectado no Tatuapé? Confesso que não queria que nada disso acontecesse. Queria apenas já estar formada, pronto.

Na rua, andando do ponto de ônibus até a faculdade, eu sempre imagino que não vai ter aula. Para me consolar. Nos meus melhores devaneios, fantasio que as aulas serão suspensas por uma semana. Depois, termino me convencendo de que isso não vai acontecer. Aqui não é Ramsdale e o entorno do campus só está assim vazio porque eu chego cedo demais.

Sou meio sistemática com alguns horários. Se for para me atrasar, prefiro nem ir. Confesso que só me comporto dessa maneira com coisas que são muito importantes para mim - indiretamente, acabo de demonstrar o quanto considero as aulas importantes.

Chegando mais cedo à Faculdade eu conheci mais e melhor todos os meus professores. E desenvolvi por eles aquela mesma admiração velada que eu sentia, quando criança, pelas princesas dos contos - por mais que as venerasse, eu sabia que dificilmente seria como elas. Sempre ia faltar algo de sublime que a minha natureza imperfeita jamais me permitiria possuir. Tanto tempo depois dos contos de fada, voltei a ter essa sensação.

Confesso que queria ter aprendido mais com cada um dos professores que já tive. Sei que não posso voltar atrás e, além disso, seria difícil aprender mais do que aprendi nas aulas - eu sempre prestei uma atenção inabalável (ou quase) às palavras que saíam da boca dos meus educadores. Acho que devia era ter conversado com eles. Perguntado mais (não me perdoo pelas vezes em que acintosamente consultei o relógio diante deles, rezando para que o sinal tocasse logo). Quantas oportunidades perdi de dizer o quanto os admirava?

Tento me consolar pensando que ainda dá tempo de conversar com cada um. E agradecer. Dizer o quanto cresci com a sabedoria que eles me deram e que o meu sonho é ser um pouco mais como eles. Ler os livros que eles leram, ver os filmes que eles viram, me dedicar arduamente ao estudo de tantas ciências interessantes, como eles se dedicaram. Não sei se consigo me aplicar tanto. Mas gostaria.

Enfim, continua a minha busca por aquela coisa sublime indefinível, cuja falta não me permite ser como a Wendy. Ou como a sereiazinha do conto homônimo de Hans Christian Andersen. Ou como os meus professores - seres reais, ainda assim inalcançáveis.

Nota: Se você não entendeu a citação à Ramsdale... Você não sabe o que está perdendo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Acordada Ou Não?

Era um hotel. Não sei como, mas tenho certeza de que era. Eu estava com medo, tremendo de medo. A sensação insuportável de algo terrível está prestes a acontecer, independente da sua vontade.

Eu estava em uma mesinha, no canto do quarto, e choramingava de pavor quando finalmente o trinco da porta começou a se mexer. Eu olhei para trás e fiquei paralisada, por um momento tive a impressão de que ia morrer só pelo medo.

Mas não era um arrombamento. Quem quer que estivesse tentando entrar no quarto, não o fazia com violência, e sim com a naturalidade com que qualquer um entra em casa ao chegar da rua. Com a mesma aflição que eu trago ao procurar as chaves na bolsa para abrir o portão, a vontade de entrar logo em casa e me esconder do mundo.

Enquanto eu tremia, alguém do outro lado parecia experimentar várias chaves na fechadura, com uma impaciência que eu adivinhava. Podia imaginar suas pernas tremelicando de impaciência, podia ouvir as chaves balançando no chaveiro ao serem examinadas, e depois ouvia-as girar sem sucesso na tranca da porta. Eu sentia que uma das chaves ia servir, que algo entraria no quarto, e aquela fechadura que não lhe dava logo passagem prolongava meu sofrimento.

(Quem já leu Crime e Castigo deve achar essa angústia bem familiar).

Finalmente a porta se abriu. Por um momento, eu fechei os olhos, como as crianças que cobrem o rosto com as mãos e na sua inocência acreditam que assim estão camufladas (assim era Bruno). Eu ouvi os passos que chegaram até a cama e jogaram alguma coisa sobre ela, com um suspiro. Eu estou tão acostumada a esse gesto! De onde eu o conheço tão bem?

- Espera.
As pernas balançando de aflição, querendo entrar logo em casa. A bolsa imediatamente atirada sobre a cama. O suspiro de quem na realidade queria chorar. Quem faz isso sou eu. Todos esses gestos são meus. Essa é uma pequena descrição de mim mesma. Mas, se é assim, penso ainda mais aterrorizada, se é assim, então quem entrou no quarto?

Abro os olhos devagar, o coração está prestes a romper meu peito e sair saltitando pelo chão, de tão forte que bate. O que verei ficará gravado nas minhas retinas para sempre, eu sei. Mas é inevitável. Olho o quarto ao meu redor e pasmo para a cena à minha frente.

Diante de mim, estava eu mesma. Com uma blusinha vermelha que a Adriana me deu, eu procurava alguma coisa na bolsa. Procurava vigorosamente, devia ser algo importante. Olhando aquilo, eu queria gritar, gritar com toda a força, mas não conseguia articular um movimento sequer. Não era possível.
E, na minha frente, a outra Leila continua sua busca. Depois, senta-se tranquilamente na cama e fica pensando em alguma coisa. Não consigo me convencer de que aquilo está mesmo acontecendo. Finalmente, consigo falar.

- Leila? Leila? Leila?

Repito ainda outras vezes. Mas a menina no quarto não me ouve. É como se eu não existisse. Então, gritei meu nome com toda a força que ainda tinha. E aí ela olhou para mim. Isto é, na realidade, ela apenas olhou na minha direção, como se pressentisse algo. Mas não me via. E continuou ali na cama, sem tomar conhecimento da minha presença.

(Quem se lembra do final de O Mundo de Sofia deve ter encontrado alguns ecos nessa passagem).

Então, eu tive certeza. Fomos a mesma pessoa durante a vida inteira, e agora ela não me vê, pensei com horror, e tudo pareceu desmoronar.
Mas o pior de tudo foi perceber quanto medo eu havia sentido daquela menina. Que, afinal, era eu mesma. E eu sou tão inofensiva, não tenho nada que alguém possa temer e, no entanto, quase matei de terror a mim mesma. Porquê?


(Não sei se eu estava acordada. Ou se acordei nesse momento. Mas foi o pior sonho que eu já tive. Anjo da guarda, onde você estava?)


domingo, 15 de maio de 2011

Noturno.

(Escrevi essa postagem quando ainda não me preocupava com o PREX: em outubro/novembro de 2010, eu tinha apenas uns três trabalhos para fazer, além do PIC - Projeto Integrado de Comunicação. Naquele momento, essas tarefas me enlouqueciam. Diante das que eu tenho agora, são só insignificâncias. Não fiz nenhuma alteração no texto. Gostei dele assim, me lembrou de épocas em que meus olhos ficavam secos por mais tempo).

Eis o artigo:


Eu tenho (ou tinha) um blog que nasceu noturno. Este aqui, ao contrário, nasceu da claridade de uma tarde de sol.

O noturno, eu fiz durante uma semana em que quase não conseguia terminar um trabalho importante (pelo qual meu professor me deu 9.5 de nota). Este aqui, eu criei por dois motivos – meu gosto pela escrita é o primeiro deles. O segundo é um blog criado pelo Paulo Henricky (consultor particular dos meus trabalhos, com as melhores dicas, as melhores idéias, a melhor companhia para as madrugadas insones no MSN, a criatividade que eu gostaria de ter e, claro, um blog: euprodutor.wordpress.com). O “Henricky” do nome dele é assim mesmo que se escreve, mas não tenho muita certeza de como se lê. Tomara que ele não se importe.

Enfim, indiretamente – e sem saber -, ele me ajudou a criar esta página. A idéia de querer sumir é minha mesmo, minha e de mais um monte de gente.

Enfim, este blog não é noturno. Mas o título desse artigo, a pessoa que me inspirou a escrevê-lo e os muitos trabalhos que ainda farei de madrugada são.

Até a próxima postagem.


(Confesso que essa parte que se refere aos muitos trabalhos que ainda teria que fazer pelas madrugadas afora me soou bem familiar).

sábado, 14 de maio de 2011

Repetições.

(Tenho as mesmas fraquezas que todo mundo tem. Só não consigo aceitar que eu seja assim).

Este blog está prestes a se tornar mais didático, eu garanto. Por ora, é apenas uma página repleta de confidências inúteis, de uma estudante inútil, à beira de um ataque inútil que não vai me levar a nada.

Estou preocupada com os prazos e informações que precisam estar presentes no meu PREX. Preocupada em emagrecer mais. Preocupada com as pessoas com quem eu convivo e com a ruína em que está se tornando a minha relação com elas. Preocupada com o que está acontecendo comigo e eu nem sei o que é.

Sábado e Domingo de semana passada foram dias quentes. Nunca senti tanto frio na minha vida, eu que sou calorenta. Dormi na casa da minha avó, debaixo de três cobertores que me sufocaram a noite inteira, contribuindo para o aumento da ordinária dose de pesadelos.

Sempre tive medo de dormir sozinha, confesso. Durmo com minha mãe desde que nasci. E, agora, eu consigo chegar em casa, ir direto para o quarto e adormecer instantaneamente sem sequer acender as luzes, a despeito do escuro e das portas abertas.

É bom ficar sozinho. Para mim, é sempre a melhor alternativa. Mas só serve quando é uma escolha - quando, por vontade própria, se fabrica uma solidão, mesmo estando cercado de gente. Quando não se tem outra saída, é bem diferente.

Estou esgotada, Mãe. Vem me pôr para dormir.

sábado, 7 de maio de 2011

Beleza.

Você pensa que eu acho bonito agarrar o computador (aliás, com muita dificuldade) e caminhar uns dois quilômetros, morrendo de calor e cansaço, ouvindo os gracejos dos peões nas ruas?

Pois saiba que eu não acho nada bonita essa atitude. Sem um pingo de glamour mesmo.

Mas foi o que eu tive que fazer. Meu computador foi infectado por um vírus para o qual eu não conseguia achar remédio. Aí, a única alternativa que me restou foi pegar a CPU e sair desesperada pelas ruas. (Dramático, não? Devia ter chamado o SAMU!).

Acontece que eu tenho um PREX para fazer! Não posso ficar desconectada nem um dia! Na quarta-feira, quando o problema surgiu, eu quase não consegui dormir e fiz as mais absurdas considerações a respeito do tal vírus e de suas consequências.

Sou exagerada, sou imediatista, acho que terei um surto antes do final do ano.

Na quinta feira de manhã, tentei ligar para um técnico que eu já conheço. Não consegui e fiz mais umas quinhentas tentativas, todas falhadas. Então, peguei o computador e saí loucamente à procura de uma lan house perto da casa da minha vó, onde fazem este tipo de serviço. Descobri que a fonte precisava ser trocada, também. E que o ideal seria uma formatação. Pensei rapidamente em quanto tudo aquilo ia me custar e pedi o trabalho completo. Voltei pra casa enjoada, com vontade de chorar, a cabeça latejando incrivelmente.

Um cavalo galopava desenfreado sobre o meu cérebro.

Ontem, fui buscar o computador. Está novo em folha. Minha biblioteca de músicas, conquistada à custa de muito trabalho, já não existe. Bem feito, não custa nada gravar em um pen drive. Estou um pouco melhor. A dor de cabeça não passou, o enjoo também não. E eu lembro intermitentemente desta passagem com Helene Amundsen e sua filha, a protagonista de "O Mundo de Sofia", durante uma tempestade:

"- O que está acontecendo comosco, minha filha?
- Não sei, respondeu Sofia. É como viver um pesadelo".

Eu também não sei o que está acontecendo comigo. E essa tempestade simboliza muito para mim.

Confissão. I

Eu queria escrever um artigo para falar de três pessoas:

Arthur Muller Justino;
Marcio Sodano Filho;
Felipe Segobi.

Mas eu não consegui achar as palavras. Então, só me resta confessar que ontem (ontem foi a apresentação oficial da nossa agência, a Oxigene Comunicação) eu senti tanto orgulho desses meninos que me deu vontade de chorar. E eu devia mesmo ter chorado - sou a única menina do grupo, as circunstâncias me permitem alguns excessos.

Em casa, fiquei pensando em tudo que já vivi com essa equipe. Relembrei a minha contratação polêmica (esse é um assunto que vai render algumas postagens futuras), a aflição da busca de clientes, as reuniões, a quantidade absurda de besteira que sai da nossa boca todos as noites. De novo, senti vontade de chorar. De pura alegria.

Nenhum desses meninos sabe (talvez fiquem sabendo, caso leiam esta postagem) que o nome deles fica na minha cabeça o dia inteiro. O tempo que antecede a conclusão de cada etapa desse trabalho faz com que meus pensamentos (repletos de informações sobre Planejamento de Campanha, Pesquisa de Mercado, Briefing, Roteiro de Diagnósticos e afins) se demorem em cada um deles, e eu não posso evitar uma prece que meu coração automaticamente começa a formular.

E, ontem, depois da apresentação, tudo que eu queria era abraçar cada um deles, tentando dizer sem palavras o quanto eles são importantes para mim, o quando confio neles, o quanto estou orgulhosa por pertencer à Agência que eu gostaria de ter integrado desde sempre. É, confessei.

Eu sei que eu não devia ouvir aquelas barbaridades que eles conversam, que eu não devia ter aprendido a falar uma ou outra palavra de baixo calão de vem em quando, sei que estou ficando mais maliciosa e crítica, mais impiedosa - estou com medo de que talvez eu vire homem até o final do ano. Mas, sabem de uma coisa? Eu nunca pensei que pudesse aprender tanto com vocês. E essa agência foi uma das melhores surpresas que este ano me reservou.

(SE FORMOS REPROVADOS NO FIM DO ANO, PODEM TER CERTEZA DE QUE NÃO HÁ AMIZADE NEM ADMIRAÇÃO CAPAZES DE IMPEDIR QUE EU MATE VOCÊS BEM LENTAMENTE!).

terça-feira, 26 de abril de 2011

Coqueiros.

"- Vocês vão ter que dar um jeito de se encontrar nas férias, terão muito o que adiantar para Agosto".

Foi assim que falou meu professor de Redação Publicitária, na aula de ontem. E eu, que naquele momento estava distraída (pensando no boato que vi na Internet, sobre a Melissa Glam Vilãs Disney ser relançada na próxima coleção), eu dei um suspiro daqueles bem longos.
Adeus, Julho cheio de redes que o vento embala nos alpendres, conversas cheias de risadas, calor estorricante, carne de sol e doce de leite.

CENA (OCORRIDA MUITAS VEZES, NUNCA RELATADA)

Uma hora da tarde, com muito esforço, percorro lentamente a pouca distância a separar a casa de Isaura da minha. É perto, mas, debaixo daquele sol, parece uma maratona. A água de coco que acabei de beber, porém, paga o cansaço.
Na minha casa, há muitos coqueiros. Alguns são baixos, permitem a colheita sem o auxílios de escadas ou varas. Na propriedade de Isaura, os coqueiros são da mesma espécie que os meus, e a terra em que são plantados é, rigorosamente, a mesma. Ainda assim, os cocos de lá sempre me pareceram mais gostosos, a doçura da água deixa na boca uma espécie de ardor que faz estalar a língua. Indescritíveis.
Para completar, desfruto da companhia de Chico Leão - para dizer o mínimo, um cabra macho, homem com tamanha firmeza de caráter só o sertão é capaz de produzir. A casa deles é quase uma extensão da minha: pai deita no chão, eu me farto de uma variedade de doces (o de siriguela, eu nem sabia da existência!), me aproveito dos esmaltes de Suana, até já caí na sala deles milhares de vezes, certa feita quase quebrei o queixo, Isaura ri até hoje.
Volto pra casa feliz, depois de tanta água, morta de preguiça e de calor. Na claridade absurda, minha casa surge como uma miragem, parece não chegar nunca. Casualmente, Mãe aparece na janela e diz:
- Minha filha, você está um carvão!
E estou. Meu corpo tem marca até da tornozeleira.
Já entro no alpendre descalça, os pés tocando a frescura reconfortante do piso. Rede ou cadeira de balanço? Oscilo. Rede. O livro já está lá dentro, afasto-o e me acomodo, descansando a vista na plantação de palmas, ouvindo ao longe o chocalhar do gado.
- Eita vida boa aperriada.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Quase.

É um Blog destinado a tratar só de um assunto: o PREX (juro que nunca mais vou querer ouvir o som desta quatro letras quando terminar esta tarefa). Mesmo assim, eu nunca mais falei do trabalho propriamente dito. Logo, vocês podem concluir que eu estou mais tranquila.

- Mais tranquila?

(Hesito; gaguejo):

- É, quase.

Para ser franca, esta semana foi uma das mais sossegadas, desde o início das atividades relacionadas ao Projeto. Sei que podia adiantar o quanto possível algumas etapas, ler algumas matérias relacionadas ao assunto, enfim. Mas, entendam: EU PRECISO SABOREAR A TRANQUILIDADE! Nem imaginava que ainda fosse capaz de ter essa sensação.

Aproveitei esses últimos sete dias para ler Tieta do Agreste - Pastora de Cabras. Fiquei muito triste. Santana do Agreste (cidadezinha do litoral baiano onde é passada a narrativa) me relembrou a beleza incomparável da vida no interior nordestino. Beleza que eu não vou tentar descrever por um só motivo: tal descrição é impossível, ninguém pode se atrever a falar sobre este assunto através de simples artigo, é sandice.
Mas, se quiser saber, pegue suas tralhas e corra pra lá, saberá qual é o nó que subjuga língua e pensamento e impede a descrição precisa dos aspectos daquela terra.

(Sim, sim, sou uma provinciana e disso muito me orgulho).

Pois é, esta semana eu me empenhei para ficar despreocupada - esforço que, naturalmente, já descaracteriza a minha suposta tranquilidade.
Nem as provas atrapalharam minha beatitude. Nunca estudei para nenhuma prova e não foi desta vez que violei esta regra que sigo cegamente, é uma das poucas.
Mas, ao menos, resolvi dezenas de palavras cruzadas, fui ao cinema, dei muita risada com tia Ângela e com Ricardo, comecei a leitura do primeiro tomo de "Os Irmãos Karamázov" e acordei tarde todos os dias.
Por falar nisso:

Trrrrm, trrrrmm, trrrrrrrrmmm... "slip inside the eye of your mind"...

Acordo devagar, estava tão bom o meu sonho! Que, na certa, era com alguma gulodice - emagrecer é terrível. Atendo:

- Ooooi, Pai!
(disfarço, mas sei que ele vai perceber a voz de sono).

- Faaaala, Nega! Dormindo?

Mesmo com todos esses quilômetros de distância, sinto o ar de gozação dele. São quase dez horas da manhã. Fico com vergonha de confessar minha vagabundagem e respondo, reticente:

- Ééé, mais ou menos.

- Nega safada!
(assim disse Pai, e deu sua risada irresistível).



É, "amanhã é outro dia!", já falava o açougueiro (coincidência?) de um livro delicioso do Domingos Pellegrini.
E eu concordo.



Loas.

Gente! O Diário de um PREX ganhou um artigo inteirinho no Blog de Altaneira. Não vou colocar o endereço aqui na postagem, se você quiser passar lá (e eu indico), basta clicar no link ao lado, nas minhas recomendações.
Foi a primeira vez que fui assim citada e recomendada. Senti uma vontade irrefreável de escrever um artigo especial para o administrador do Blog de Altaneira. E o fiz, na Biblioteca lotada onde era quase possível tocar a azáfama e a urgência dos estudantes às portas das avaliações bimestrais.
Antes de publicar este artigo, enviei o texto para a aprovação do tal administrador do Blog que me citou; ele gostou, a publicação está autorizada.
(Achei melhor perguntar antes se podia ou não podia postar, ele é advogado, vocês sabem como é essa gente).
Eis o que escrevi:

Doutor, Doutor... Não queira me fazer chorar, olhe que eu já estou à beira da desidratação. Não poderia deixar de registrar uma das maiores alegrias relacionadas ao meu dramático Projeto Experimental: a visita, leitura e elogio recebidos de Raimundo Soares Filho. Não farei maiores apresentações, seria preciso dizer muito sobre este senhor - e a postagem ficaria longa demais e cansativa.
Sinceramente, eu não mereço nenhum dos louvores que ele tece a meu respeito, muito menos um artigo só para mim no blog (excelente) dirigido por este advogado caririense. Blogueiro; twiteiro; fundador de moto clube; casado com uma das minhas mais competentes ex-professoras; pai da Alana (que também estuda Comunicação); para mim, eternamente, Doutor: assim ouvi tantas pessoas se referirem a ele, assim passei também a designá-lo.
Meus cinco sentidos são tarados pelo Nordeste. E este é um dos motivos que fazem com que eu me orgulhe desse homem e de receber sua aprovação.
" - Seja lá o que você pretenda fazer, seja qual for o seu sonho - que seja pela sua terra. Você é daqui" - assim já disse tantas vezes minha mãe, para mim e para muitos outros. E eu sei o quanto o Nordeste precisa de gente que pense dessa maneira. E assim é você e a sua família inteira, Doutor, seria até injusto não estender o louvor aos demais. "Faça pela sua terra, minha filha", diz Mãe, e vai ganhando adeptos.
Há muito tempo eu já devia ter cometido estas palavras. Atraso que podemos desprezar, já que o tempo passado só fez aumentar o meu apreço pela sua figura.
Temo que este artigo não chegue para fornecer a medida da minha admiração, nem do quanto sou grata pela alta conta em que você me tem. Afinal, sou só uma aprendiz, sei muito pouco e de menos ainda me sinto capaz.
Mesmo assim, tentei, espero ter acertado. Não por méritos próprios - estes pouco significam. Mas por você, que entenderá minha intenção.
E era isso.


Era isso, leitores. Era isso, Doctor.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Serão.

Até que demorou. Mas essa foi a minha primeira noite varada por conta do PREX. Conversei com o meu contato da empresa que teremos como cliente (me sinto uma mulher de negócios falando assim, vou até repetir: Conversei com o meu contato da empresa que teremos como cliente) e cheguei em casa com milhões de idéias, coisas para lembrar, tópicos a escrever, dentro da minha cabeça se formava uma tempestade que ameaçava sair pelos meus olhos de pálpebras exaustas.
Quando amanheceu, eu ainda não tinha terminado. Às dez da manhã, cliquei em Salvar e fui até a padaria, com roupas e cabelos de ontem, uns e outros desarranjados e amassados. Os olhos imploravam para se fechar a qualquer pretexto. Ainda assim, o homem, tranquilamente sentado no seu degrau, disse:

- Carinha de cansada.

E eu devia mesmo estar péssima: mais além, na rua, a menina ainda de colo me apontou para a mãe e disse:

- Au-au.

Infâmia, me confundiu com um cachorro. Essas crianças de hoje não respeitam nenhuma circunstância.
Voltei para casa, tomei café e fiquei pensando. Como já fazia, tempos atrás, um poeta retado.

(Parêntesis: "- Carinha de cansada", o homem disse. Eu ri para ele, de surpresa e cansaço. Nessa rua, todos os homens de certa idade vivem querendo puxar conversa comigo.
Esse "de certa idade" designa modestamente esses tipos que por aí se chamam "tiozinhos" - esses indivíduos enxergam em mim alguma coisa que os mais jovens não percebem - afinal, a criança me confundiu com um cachorro, prova irrefutável de que a minha simpatia aumenta proporcionalmente à idade do meu observador).


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pensei.

Estava ali no quarto, trocando de roupa, e pensei:

- Quando era melhor? No começo do curso ou agora?

No primeiro semestre, eu tinha poucas preocupações, poucos trabalhos, a vida corria mansa. Em compensação, parecia que o quarto ano ainda ia demorar uma eternidade, eu me impacientava, chorava, contava os dias que faltavam para as férias. Ao menos, eu sabia que ia ter férias.

Agora, eu estou no quarto ano. Não vou mentir que passou rápido, pelo contrário - os dias se arrastavam, eram meses. Não lembro dos períodos com exatidão - os meus marcadores de tempo eram os livros que eu lia e os CD's de que estava gostando.
As preocupações, as angústias, a quantidade esmagadora de trabalhos - nada disso me afligia nos primeiros meses de aula, agora me consome incansavelmente, não me deixa ler em paz, não tenho tempo para procurar os CD's que queria. E eu nem sei se vou ter férias.

Mas é o penúltimo semestre - já é um consolo. O curso está perto do fim, mesmo que meu PREX seja reprovado (sou pessimista para comigo mesma, sou e pronto).

E eu me decidi. É melhor agora. Seja para sorrisos ou lágrimas, alegrias ou decepções, que acabe logo. É só o que eu peço.

domingo, 10 de abril de 2011

Convite.

- Mãe, parece que tudo dá errado.

Ela já disse as coisas de sempre. Que eu levo a sério demais, sofro sem necessidade, perco muito cedo as esperanças de um final feliz. E ela tem razão.

- Você sabe que consegue, minha filha. Nada nunca deu errado para você.
- E se dessa vez for diferente?

Um breve silêncio.

- Pega suas coisas e vem pra casa.

Surpresa congestiona o fluxo de palavras na minha garganta. De tantas que eu queria dizer, não saiu nenhuma.

- Se você não quer passar por isso, Leilinha, você não precisa.

Consigo desatar o nó, a custo.

- Mãe! Não posso largar tudo por medo de não conseguir fazer um trabalho bom! Nunca!
- Então, você já sabe o que fazer.

Sei, Mãe. Agora eu sei.

sábado, 9 de abril de 2011

Telefonia II

Quase na entrada da faculdade, os primeiros acordes de Shiver me sobressaltam.
- Oi, Mã.
(Não escrevi errado, não. É assim mesmo que eu falo).
- Oi, Mãe, que nada! É "Oi, Pai!".
- Ooooooii, Pai!
(Assumo que eu vivo chamando Mãe de Pai e Pai de Mãe, mas, desta vez, a culpa não foi minha: ele nunca me liga daquele telefone e nunca está em casa neste horário).
- Tudo bom, Nega?
- Tudo, Pai. E você? E a viagem?
- Foi boa. E minha filha?
(A insistência dos pais...)
- Estou bem, Pai, não precisa se preocupar.
(Minto descaradamente, sou uma ruína humana).

Trocamos mais algumas palavras.
Sei que Mãe está do lado dele prestes a lhe tomar o telefone. Ele decide passar para ela de uma vez:
- Fala aqui com sua Mãe.
- Oi, Mã.
- Oi, minha filha! Só queria te dizer que você é a filha mais amada do mundo, uma graça de Nossa Senhora, minha ninfa morena.
(Ninfa morena, às vezes ela me chama assim. Eu sei que é ridículo, não levem a mal).
Reflito que, qualquer dia, minha mãe vai entrar pelo telefone adentro. Tanta dedicação me comove. Não quero estragar o rímel, deu muito trabalho passar.
Fico na dúvida se peço a Melissa nova, resolvo pedir depois. Desista, PREX, não vou deixar de ser consumista por sua causa.

- Obrigada, Mã. Também amo você.
- Era só isso que eu queria te dizer. Boa aula.
- Tchal, Mãe.


Fiquei imaginando a cena:
(Minha Mãe, desligando o telefone, olhando para o céu tão claro que chega a doer a vista): Meu Deus, proteja minha filha!
(Meu Pai, olhando de esguelha, contrariado): Você nem me deixa falar com a menina!
Mãe olha para ele, suspira e entra em casa. Pai se encaminha lentamente para a rede, o piso do alpendre refletindo os últimos raios alaranjados do pôr-do-sol. Na copa das árvores, os passarinhos cantam desesperadamente.

Eu subo as escadas, avanço para as catracas. Hoje é sexta-feira, Amém!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Por Mares Nunca Dantes Navegados.

Seria ingratidão (muita ingratidão) se eu não escrevesse um artigo especial para o meu primeiro seguidor.
Este Blog começou há umas duas semanas, como um desabafo para as minhas aflições. Eu não queria incomodar ninguém com elas. Demorei um pouco até confessar que estava escrevendo estes artigos. Escrever é tão pessoal, como ter coragem de mostrar para as outras pessoas, expor suas palavras ao riso e ao descaso, tentar fazer com que terceiros sintam algo que só aflige a nós mesmos.
Por esses e outros tantos motivos, relutei antes de começar a divulgar a página, que ontem recebeu o primeiro (e gratificante) elogio - vindo do meu primeiro seguidor, honra que eu nem acredito merecer.
Como eu já disse mais de uma vez, aqui mesmo, esse PREX está sendo um poço de agonias que, volta e meia, são aplacadas por uma dádiva inesperada que me faz esquecer, por alguns minutos, todos os castigos que ainda me esperam nesta epopéia que mal começou. E que, infelizmente, custa a findar.
Nas últimas (ou penúltimas) férias, eu li A Divina Comédia, embalada pela rede e pelo vento que ameniza o calor do sertão. Mesmo não tendo a imaginação tão fértil, e sem as ilustrações de Doré para me ajudar a compor cenas e paisagens, consegui tecer mentalmente uma versão para os episódios narrados. E o que isso tem a ver com meu PREX?
Dante desceu aos Infernos, testemunhou as piores dores e provações, viu a aflição esperançosa do Purgatório e, por fim, chegou até o Céu. Conheceu a Justiça e a Bem-aventurança. Espero que assim aconteça comigo também, no decorrer deste trabalho.
Um seguidor deste naipe será, para mim, como a companhia segura que Dante teve de Virgílio, durante a jornada pelo Inferno e pelo Purgatório. Já posso começar minha fábula.

Cliente ou Clientes?

Ontem, mais uma vez, peguei a coragem que eu tinha e fui conversar com meu Coordenador. "Sem chorar, sem chorar", dizia a voz na minha cabeça. Não chorei.
Expliquei para ele a nossa situação - a resposta tardia de um cliente muito desejado. E resposta muito positiva, aliás. Já falei sobre isso em um artigo anterior. Enquanto eu falava, comecei a pensar em mais um artigo para o Blog, na terapia que o próprio coordenador me sugeriu (e que, desgraçadamente, ainda não comecei), no que iria acontecer no próximo capítulo de Tieta do Agreste, Pastora de Cabras, no meu material que eu tinha esquecido na agência, na conversa que eu teria com o sujeito da Unilever, enfim. Em milhões de coisas. Estava com medo da resposta do Coordenador e comecei a me enganar que eu estava muito distante dali.
Ele entendeu perfeitamente. Mesmo já tendo me preparado, me deu vontade de chorar de novo. De alegria. Depois de sofrer tanto, me sentir tão pequena e despreparada, parece que as coisas começaram a dar certo. As pessoas me entendem, os acasos me favorecem. Talvez seja (e deve ser) uma compensação pelo meu vale de lágrimas de há dias atrás.
"Vocês nem devem descartar o outro cliente agora. Poderiam continuar trabalhando com os dois", ele disse, e meu coração se acelerou. Depois de tanto desespero, dois clientes. Dois. Por isso, se alguém por aí está se sentindo perdido, repense. "Faça sua parte e confie", era o que todos me diziam quando eu arrancava metade do cabelo e roía as unhas até o tronco e chorava até ficar com dor de cabeça, e eu achava que eles só diziam aquilo por que estavam de fora, não entendiam meu sofrimento.
Agora, continuo achando que eles não entendiam meu sofrimento. Mas o conselho que me davam era o único possível. A vida sempre tem uma surpresa, escancare portas e janelas e verá.

Cantoria.

Vontade de cantoria. Muita vontade.
(Esqueço que os meus leitores potenciais provem de São Paulo. Mas, atualmente, mesmo no Nordeste, pouca gente sabe a que me refiro).
Então, explico: a cantoria é praticada pelos poetas repentistas e consiste em entoar, acompanhados pela viola, versos improvisados, sobre os mais diversos assuntos. Existem muitas variações de mote, com métricas diferentes, além de desafios, martelos (agalopados ou não), mourões, e por aí vai. Não vou tentar explicar um assunto que eu mesma não domino tanto.
Minha relação com a cantoria, com a tradição da viola nordestina, data dos meus primeiros meses de vida. Os poetas nordestinos não só improvisam, também compõe poemas cantados. Meu pai usava essas canções para me ninar.
Esta relação era tão forte que, ainda hoje, com vinte anos (preciso me acostumar com a idade nova), nas noites em que eu não consigo dormir, escuto a voz de Pai cantando "O Triste Adeus de um Nordestino" e "O Velhinho do Roçado". Cresci ouvindo os grandes poetas repentistas do Nordeste, depois de grande acompanhei Pai em vários festivais. Fosse ele um homem menos atarefado, não perderia um.
Não vou me estender nessa postagem. Mas vou enviá-la para Pai, ele vai ficar orgulhoso de saber (na realidade, já sabe) que a filha também valoriza e admira a cultura popular nordestina.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Café.

Bandeira tem uns versos ("Poema só para Jaime Ovalle") que contam como o poeta despertou em uma manhã escura, embora o dia já fosse alto (como diria minha mãe). Chovia uma daquelas chuvinhas inquietantes, "triste chuva de resignação", assim definiu ele mesmo.
Não, hoje, quando me levantei, não estava chovendo. Mas Ricardo já havia saído, a manhã já estava adiantada, e eu bebi o café que eu mesma preparei - exatamente como o poeta. Adoro acordar e fazer isso, sou fã de Bandeira e a nostalgia depois do café me faz pensar que, talvez, também ele tenha se sentido assim quando da composição desses versos. É pena que, agora, com as preocupações infalíveis trazidas pelo PREX, eu tenha tão poucos desses momentos.
A seguir, brindo-vos com a transcrição do poema inteiro:


"Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei".




Manuel, Manuel... Será esse mesmo o nome?

Cliente

A semana que antecedeu a entrega do Pré-Projeto foi a pior da minha vida. Eu já conseguia enxergar a minha reprovação. Aliás, confesso que era só nisso que eu pensava.
Até agora, o "Diário de um PREX" não revelou nomes nem procedências. Pois vai continuar assim, este artigo é uma exceção.
Meu grupo tinha como cliente Lipton Ice Tea. Chá gelado, um mercado em expansão, um produto ainda não muito conhecido. Assim, sem pensar, não posso dizer até que ponto tudo isso nos seria favorável. Talvez, nem fosse favorável.
O fato é que a Lipton, aqui no Brasil, é controlada pela AmBev. Não fosse a intervenção miraculosa de um aluno da nossa faculdade (de outro campus, entretanto), nós nunca teríamos conseguido sequer a assinatura da Carta de Aceite. A situação, evidentemente, estava preocupante (para mim, então, desesperadora): a assinatura da tal carta é muito pouco, comparada à todas as informações de que precisamos. A dificuldade que encontramos para conseguir falar direto com o cliente prenunciava meus sofrimentos (que eu já estou amargando por antecipação).
Então, após a entrega de um Pré-Projeto defasado, obtivemos resposta positiva (muito positiva, eu diria) da Ades - um parceiro que desejamos desde o princípio, mas que não tínhamos mais esperança de conseguir. Pela primeira vez, desde que eu comecei este trabalho, eu senti que alguém (à exceção dos meus pais, dos meus colegas e dos meus professores) se importava com a minha situação. Que alguém entendia pelo que eu estava passando e conhecia o gosto de se saber insignificante.
E, agora, eu não tenho certeza se meu coordenador vai deixar meu grupo mudar de cliente. Mesmo com todas as vantagens (e são muitas) que a Ades oferece. Mais uma vez, fiquei a noite inteira rolando de lá pra cá. Hoje, vamos falar com ele. Ou, talvez, amanhã - assim, já poderemos levar a carta de aceite assinada. Espero que ele nos entenda, também já deve ter passado por situações semelhantes.
Amanhã (ou depois), teremos grandes novidades neste Blog.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Procura;

Pai, parece que eu pisquei e, quando abri os olhos, você já tinha ido embora. E eu voltei à mesma vida, encontrei os mesmos problemas, as mesmas preocupações e, infelizmente, não tenho certeza se posso achar coragem pra aguentar tudo isso longe de você.

Boa viagem, pai, que seu vôo não tenha turbulências, que seu lanche esteja bem quente, que o sertão esteja ainda mais bonito quando você descansar a vista na paisagem do Cariri.

P.S.: Minha primeira postagem com vinte anos, hein? Vinte!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Telefonia

Trrrrrrrm, trrrrrrrrrrm, trrrrrrrrrm.

Desperto atordoada na penumbra do quarto e me dou conta do celular vibrando sobre a mesinha de cabeceira.
-Droga de celular, qualquer dia me mata de susto.
Atendo:
-Oi, Mãezinha.
Do outro lado, a preocupação esfuziante da minha mãe:
-Bom dia, minha filha! Como é que está indo seu trabalho? Você está melhor? Mais calma? Está se alimentando direito? Você sabe o quanto sua mãe fica preocupada quando...
Preocupações despencam como uma tempestade na minha cabeça. Corto:
-Mãe, não quero mais falar sobre esse assunto.

Aconchegada no meu travesseirinho surrupiado da TAM, me preparo para submergir em mais um sono agitado e sem sonhos, desses que agora me reviram as noites, quando recebo mensagem de pai:

"Oi, Nega. Estou me organizando para ir aí te dar um abraço".
Começo a chorar antes de poder responder:

"Pai, não ouse chegar aqui sem trazer doce de leite. Já pedi para mãe fazer. Vou te esperar no aeroporto com uma colher na mão. E também já decidi o que vou querer de presente".
Se meu pai não viesse, talvez eu nem me lembrasse que o meu aniversário já é dia quatro. Será que esse trabalho termina um dia, meu Deus?

Terapia?

Antes seja olvido que omissão. Não lembro mais com certeza, mas acho que foram mais ou menos esses os termos que Bentinho empregou para iniciar um dos capítulos do Dom Casmurro.
Na postagem anterior, esqueci de mencionar um trecho importante da minha entrevista com o Coordenador. Por isso, lembrei da frase machadiana e voltei aqui para complementar o relato.
Quando eu consegui estancar a torrente de palavras, ditas a muito custo, devido à tremedeira do lábio inferior (o que, em mim, representa forte indício de choro sincero), meu coordenador disse:
- Passa lá na Agência, depois. Pega o telefone da Terapia e marca uma avaliação. Você precisa.

Pois é, ele falou assim. Eu? Terapia? Pra quê?
Vou ligar amanhã mesmo.

Confesso que não esperava que o PREX me trouxesse revelações dessa natureza.

Conversa.

Leitores! (Claro que é apenas uma hipótese. Não sei se tenho leitores).
Há dias, reuni a coragem que julguei suficiente para ir falar com meu coordenador. Como veremos, a miséria de coragem que eu juntei não deu pra nada. Cheguei à faculdade e caminhei até a sala dele, desejando uma só coisa - algo incerto que continuo desconhecendo.
Eu tencionava ter uma conversa normal. Já tinha feito o script). Mas a verdade é que eu afrouxei. Quem diria, hein? Na frente do meu coordenador!
O quanto me permitiam os soluços e aquela coisa ruim na garganta, falei sobre as minhas dúvidas, a chateação, a ansiedade e, maior do que tudo, tragando tudo, o medo. O medo do PREX.
Não me venha dizer que eu só preciso dar o melhor de mim e ficar sossegada. SOSSEGO? Eu não quero ouvir falar em sossego! Prefiro motivos mais condizentes com a minha situação - as pragas do Egito, o choro e o ranger de dentes do Juízo Final, as provações de Jó, a miséria de Lázaro, a dor de Marta e Maria pela morte do irmão (quantas evocações bíblicas! Recentemente, li "Caim", de José Saramago, e "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski. Está explicado).
Meu coordenador me ouviu com paciência, sabendo que o meu problema era macroambiental (finalmente, um termo técnico!). Ser reprovada é um risco que você corre desde que começou a estudar, ele me replicou, e não deve se apegar a isto.
- Você não sabe lidar com a perda, é fato. E está canalizando todas as suas expectativas para o PREX.
Olhei rapidamente para ele, sem poder enxergar direito através dos olhos anuviados. Queria ter dito "Parabéns, professor. Sua conclusão foi precisa". Mas não queria me expor mais, o choro, a confissão da fraqueza, a exposição da minhas misérias (mesmo para uma figura a quem eu sei que devo satisfações) já me pareciam suficientes. Além disso, eu não conseguia segurar as lágrimas, não sei de onde tirei tantas. Depois, ele fez surgir um saco balas de goma e me obrigou a aceitá-las. Não sei como me atrevi: choro - copiosamente - as pitangas para o indivíduo (que, aliás, nada tem a ver com as benditas pitangas), e, de uma hora pra outra, tomo liberdades assim, pergunto se ele também gosta de balas de goma, subtraio do pacote só as minhas preferidas, mastigo-as com as lágrimas retardatárias ainda caindo dos olhos. Estou visivelmente desequilibrada.
Para encerrar o relato, quero registrar que meu coordenador, ciente do meu drama, disse que, se eu continuar assim, ele será obrigado a me reprovar. Se eu aprovo seu trabalho, disse, sua vida vai perder o sentido. Nesse momento, eu, que já havia mesmo perdido toda a compostura diante das balas de goma, me permiti uma risada discreta.
Confesso que, depois desta conversa, fiquei mais aliviada. Só um pouco - eu não me permito tranqüilidade.
Voltei a roer vorazmente as unhas. Deixei de escovar o cabelo. Não queria deixar de ser consumista, mas temo que também este hábito seja tragado pelo PREX. Há dias não abro as newsletters da Loja Melissa e sequer fui até a MOP ver os modelos que já estão na pré-venda.
Queria poder avançar no tempo e saber até quando esta angústia vai durar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sono ou Insone?

Leitores! (Partindo do pressuposto de que vocês existam).
Quem diria, hein? Estou mesmo levando o Blog a sério. O que, aliás, é bem compreensível, já que o assunto tratado possui, para mim, uma importância sem tamanho.
Às vezes me pergunto se existem, nos outros grupos, pessoas como eu - o PREX ainda na fase embrionária, e elas aos prantos, imaginando se conseguirão se formar algum dia.
Mais uma vez, vou me falar diretamente para quem não sabe ainda por onde começar. Sei que não vou conseguir impedi-los de sofrer só com a ajuda destas palavras. Ninguém conseguiu me consolar nos meus dias de expiação, também. Por isso, quero apenas fazer um apelo a quem já pegou a corda e está por aí, perambulando, à procura do galho ideal para dar cabo da situação. (Eu também estava com a corda na mão, vagando, e ainda com barbitúricos, para me garantir contra uma possível falha da corda).
Foi assim, prestes a tomar a decisão fatídica, que eu pensei no quanto seria bom se eu conseguisse chegar até o final, alcançar esse objetivo (que pode parecer tão pequeno), testemunhar o sucesso da minha turma e, com um milagre, até o meu próprio êxito. Confesso que pensar nisso só me fez chorar ainda mais. E foi aí que algo fez a corda se romper, quando eu já tinha posto o laço no pescoço e pulado. Assim, na última hora.
Eu estava prestes a choramingar e arrastar minha humilhação e minha derrota na frente de quem quisesse ver - logo eu, que nunca permiti que ninguém notasse o quanto eu estava despedaçada.
Não vou dar detalhes sobre o rompimento da corda e o que causou a mudança da minha trajetória. O expedicionário teme por suas descobertas. Eu só digo uma coisa: se você, formando em Publicidade, não precisa, obrigatoriamente, fazer um PREX com o rigor que os meus professores exigem, sinta-se aliviado: você não terá a obrigação intransferível de ser exato e criterioso. Mas, mesmo assim, se entregue.
Nunca sejam como eu, por favor. Eu me entrego milhares de vezes mais do que o necessário. Mas façam sempre o seu melhor. Lembrem que o seu conhecimento terá a chance de ser aplicado, testado, corrigido e que você carregará esta experiência para sempre. Percebem a grandeza de um PREX? Não, né? Deixa pra lá.
Preciso começar a escrever menos, do jeito que está indo eu vou assustar os leitores.
Para encerrar este artigo, registro que, na quinta feira, vou chegar em casa e não vou conseguir dormir (o que não é novidade, desde o início deste PREX). Mas, desta vez, será de expectativa: na quinta, entregaremos nosso Pré Projeto.
Os dias voam, não chegam para pôr termo às inúmeras tarefas que se amontoam. Mas, quando olho para o calendário, tenho a sensação de que terei que esperar séculos até as férias. Até poder abraçar minha mãe e meu pai, que me farão dormir sossegada por alguns dias. A Deus querer, como se diz no Nordeste.

Novos Olhos

Hoje, quando cheguei à Faculdade, fui para a Biblioteca ler uns versos do Fernando Pessoa (um dos meus poetas preferidos, nem podia ser diferente). Li e reli poemas de que eu já gostava há muito tempo, aos quais, desta vez, consegui emprestar nova significação. Estou passando por tanta coisa... Tinha razão o filósofo quando disse que não se entre duas vezes no mesmo rio. Li isso em "O Mundo de Sofia", nas últimas férias. Só agora entendi realmente.
Mas o que eu queria dizer era que, na Biblioteca, conversei um minutinho, quase em camaradagem, com a atendente. Elogiei o novo corte de cabelo dela. Justo eu, que sou tão fechada. Que procuro sempre ocupar o mínimo possível do espaço dos outros, desejando apenas que ninguém se insinue no meu. Também nisso sou egoísta.
E, como eu ia dizendo, conversamos, a atendente e eu. Depois das minhas últimas provações, eu me preocupo com as pessoas. Zelo por elas. Sorrio, mesmo no aperto das conduções, na pressa das ruas. Agora eu sei muito bem o que é ter a certeza de que ninguém está nem aí para os seus problemas. Que ninguém está disposto a te ajudar, pois todos têm mais o que fazer da vida.
Enquanto a atendente falava do cabelo novo, eu me dei conta de que ela sempre havia sido tão simpática comigo! Quando a máquina lia minha carteirinha e meu registro aparecia na tela, ela me chamava pelo nome, sempre sorrindo, prestativa. Eu, a secura de sempre. (Reconheço, mãe!). Hoje, depois de longos períodos tendo a honra (agora eu sei disso) de ser atendida pela bibliotecária, conversei com ela pela primeira vez. Só um minutinho, claro, o trabalho dela não permitia mais.
E essa prosa tão curta fez uma diferença substancial no meu dia. Nunca tinha me ocorrido que gestos assim pequenos (desculpem pelo clichê, é inevitável) fazem tanta diferença. É dentro de cada um que todas as mudanças devem começar. Foi preciso esbarrar no PREX, tremer de medo e aflição, roer as unhas e chorar (não o choro simples, e sim aquele choro que dói) para perceber que eu estava deixando de aprender coisas importantes que não constavam da minha matriz curricular.
Eu já disse que não sou mais a mesma pessoa?

domingo, 27 de março de 2011

Preocupações e Pesadelos.

É, eu achava que esta hora ia demorar. Achava que eu ia saber o que fazer, já que para isso estudei arduamente nos três anos anteriores. No entanto, estou aqui, meio desesperada.
PREX - Projeto Experimental - é o nome do trabalho que os estudantes de Publicidade e Propaganda precisam desenvolver durante o último ano acadêmico. E chegou a minha vez.
É daí que vem esse aperto no meu peito, a vontade quase ininterrupta de chorar, o medo. Essa é a primeira semana de trabalho concreto. Por milagre (única explicação plausível), consegui um contato na empresa que escolhemos como cliente. Antes de conseguir este elo (imprescindível, por sinal), eu já vinha tendo pesadelos contínuos sobre o futuro da minha equipe.
Não estou fazendo drama. Não vou conseguir ser precisa na explicação. Só quem já passou (ou está passando) pelo mesmo momento que eu sabe das dificuldades que é preciso enfrentar. Como chegar até as empresas alegando que é estudante, que vai precisar de esclarecimentos a respeito de informações organizacionais que, na maioria das vezes, são secretas? Mesmo estando do lado desfavorecido, consigo entender que as corporações não poderiam nos receber com um tapete vermelho e uma coroa de louros. Afinal, chegamos até eles portando, apenas, a esperança, e inquirindo descaradamente sobre dados confidenciais! Como eu esperava ser recebida?
Sinceramente, eu esperava apenas ser atendida. Perceber um pouco de interesse ou de atenção. Mas, na minha empreitada, não obtive nada disso. Aliás, me senti humilhada como poucas vezes na vida. Além de humilhação, o que mais me restava sentir, sabendo que nenhuma daquelas pessoas, do outro lado da linha ou da tela, se incomodava com o meu desespero, a minha súplica, o meu trabalho inteiro por realizar, o meu ano letivo em vias de ser desperdiçado?
E, em todas as vezes, eu fiz o que me restava. Desliguei o telefone, fechei o email, fechei o quarto e chorei, desesperada, com a certeza de que eu não tinha quase ninguém com quem contar e que os meus professores não tinham nada a ver com isso. Eu tinha prazos e era meu dever cumpri-los. Mas, como? Eu não tinha apoio nenhum e sequer enxergava mais a salvação.
Que apareceu, aliás. Quer dizer, pelo menos é o que parece, e Deus permita que eu não esteja enganada desta vez.
Falo assim porque conheço que não sou mais a mesma pessoa depois dessas investidas. Minha mãe sempre diz que eu levo tudo a sério demais, que eu me desgasto demais, me preocupo e sofro demais. Tudo isso é verdade. Aprendi nos últimos tempos que os pais sempre têm razão. Enfim, quando a dor é muita, minha visão se altera. No auge da aflição, eu tenho a certeza de que nunca mais o mundo será o mesmo. O sofrimento fica pra sempre em mim, é uma lente que condiciona o que está ao meu redor.
Muitos vão dizer que é só um trabalho, que, em último (e inimaginável) caso, eu seria reprovada e teria que fazer tudo de novo, só isso. Eu também gostaria de pensar assim. Mas não consigo. Este PREX vale a minha formatura, no final do ano. Vale a conclusão de uma etapa fundamental da minha vida, vale a certeza de que eu aprendi o que devia aprender nos anos anteriores e que eu sou, sim, capaz de colocar em prática todos os conceitos que absorvi em todas essas aulas. Não vai ser agora que eu vou frustrar tanto a mim mesma e aos meus.
Sei que esse trabalho não vai se definir à custa das minhas lágrimas. Elas são só um desabafo, um dos poucos que eu tenho. Não possuindo minha mãe e meu pai aqui, relegada aos cuidados de uma família que eu evito preocupar, não contei a ninguém sobre esse meu problema. Além do mais, eu não deixo que ninguém veja as minhas fraquezas. Mas, na realidade, eu estou morrendo de medo. Como nunca senti nesses quase vinte anos de vida.
Essa é a razão deste Blog. Se você tiver paciência, visite. Dê-me a honra. Antecipo que eu não vou ensinar como elaborar uma Campanha, mas, com sorte, posso confortar um pouco aqueles que também choram, praguejam, passam noites insones, desesperam da vida e pensam que tudo vai se perder. Eu também sou assim. Não ofereço garantias de que as coisas vão dar certo. Mas, com o Diário de um PREX, afirmo para todos (sobretudo para mim mesma) que a vida continua. E, há três ou quatro dias, eu achava que não.
Até a próxima postagem.