Era um hotel. Não sei como, mas tenho certeza de que era. Eu estava com medo, tremendo de medo. A sensação insuportável de algo terrível está prestes a acontecer, independente da sua vontade.
Eu estava em uma mesinha, no canto do quarto, e choramingava de pavor quando finalmente o trinco da porta começou a se mexer. Eu olhei para trás e fiquei paralisada, por um momento tive a impressão de que ia morrer só pelo medo.
Mas não era um arrombamento. Quem quer que estivesse tentando entrar no quarto, não o fazia com violência, e sim com a naturalidade com que qualquer um entra em casa ao chegar da rua. Com a mesma aflição que eu trago ao procurar as chaves na bolsa para abrir o portão, a vontade de entrar logo em casa e me esconder do mundo.
Enquanto eu tremia, alguém do outro lado parecia experimentar várias chaves na fechadura, com uma impaciência que eu adivinhava. Podia imaginar suas pernas tremelicando de impaciência, podia ouvir as chaves balançando no chaveiro ao serem examinadas, e depois ouvia-as girar sem sucesso na tranca da porta. Eu sentia que uma das chaves ia servir, que algo entraria no quarto, e aquela fechadura que não lhe dava logo passagem prolongava meu sofrimento.
(Quem já leu Crime e Castigo deve achar essa angústia bem familiar).
Finalmente a porta se abriu. Por um momento, eu fechei os olhos, como as crianças que cobrem o rosto com as mãos e na sua inocência acreditam que assim estão camufladas (assim era Bruno). Eu ouvi os passos que chegaram até a cama e jogaram alguma coisa sobre ela, com um suspiro. Eu estou tão acostumada a esse gesto! De onde eu o conheço tão bem?
- Espera.
As pernas balançando de aflição, querendo entrar logo em casa. A bolsa imediatamente atirada sobre a cama. O suspiro de quem na realidade queria chorar. Quem faz isso sou eu. Todos esses gestos são meus. Essa é uma pequena descrição de mim mesma. Mas, se é assim, penso ainda mais aterrorizada, se é assim, então quem entrou no quarto?
Abro os olhos devagar, o coração está prestes a romper meu peito e sair saltitando pelo chão, de tão forte que bate. O que verei ficará gravado nas minhas retinas para sempre, eu sei. Mas é inevitável. Olho o quarto ao meu redor e pasmo para a cena à minha frente.
Diante de mim, estava eu mesma. Com uma blusinha vermelha que a Adriana me deu, eu procurava alguma coisa na bolsa. Procurava vigorosamente, devia ser algo importante. Olhando aquilo, eu queria gritar, gritar com toda a força, mas não conseguia articular um movimento sequer. Não era possível.
E, na minha frente, a outra Leila continua sua busca. Depois, senta-se tranquilamente na cama e fica pensando em alguma coisa. Não consigo me convencer de que aquilo está mesmo acontecendo. Finalmente, consigo falar.
- Leila? Leila? Leila?
Repito ainda outras vezes. Mas a menina no quarto não me ouve. É como se eu não existisse. Então, gritei meu nome com toda a força que ainda tinha. E aí ela olhou para mim. Isto é, na realidade, ela apenas olhou na minha direção, como se pressentisse algo. Mas não me via. E continuou ali na cama, sem tomar conhecimento da minha presença.
(Quem se lembra do final de O Mundo de Sofia deve ter encontrado alguns ecos nessa passagem).
Então, eu tive certeza. Fomos a mesma pessoa durante a vida inteira, e agora ela não me vê, pensei com horror, e tudo pareceu desmoronar.
Mas o pior de tudo foi perceber quanto medo eu havia sentido daquela menina. Que, afinal, era eu mesma. E eu sou tão inofensiva, não tenho nada que alguém possa temer e, no entanto, quase matei de terror a mim mesma. Porquê?
(Não sei se eu estava acordada. Ou se acordei nesse momento. Mas foi o pior sonho que eu já tive. Anjo da guarda, onde você estava?)
Eu estava em uma mesinha, no canto do quarto, e choramingava de pavor quando finalmente o trinco da porta começou a se mexer. Eu olhei para trás e fiquei paralisada, por um momento tive a impressão de que ia morrer só pelo medo.
Mas não era um arrombamento. Quem quer que estivesse tentando entrar no quarto, não o fazia com violência, e sim com a naturalidade com que qualquer um entra em casa ao chegar da rua. Com a mesma aflição que eu trago ao procurar as chaves na bolsa para abrir o portão, a vontade de entrar logo em casa e me esconder do mundo.
Enquanto eu tremia, alguém do outro lado parecia experimentar várias chaves na fechadura, com uma impaciência que eu adivinhava. Podia imaginar suas pernas tremelicando de impaciência, podia ouvir as chaves balançando no chaveiro ao serem examinadas, e depois ouvia-as girar sem sucesso na tranca da porta. Eu sentia que uma das chaves ia servir, que algo entraria no quarto, e aquela fechadura que não lhe dava logo passagem prolongava meu sofrimento.
(Quem já leu Crime e Castigo deve achar essa angústia bem familiar).
Finalmente a porta se abriu. Por um momento, eu fechei os olhos, como as crianças que cobrem o rosto com as mãos e na sua inocência acreditam que assim estão camufladas (assim era Bruno). Eu ouvi os passos que chegaram até a cama e jogaram alguma coisa sobre ela, com um suspiro. Eu estou tão acostumada a esse gesto! De onde eu o conheço tão bem?
- Espera.
As pernas balançando de aflição, querendo entrar logo em casa. A bolsa imediatamente atirada sobre a cama. O suspiro de quem na realidade queria chorar. Quem faz isso sou eu. Todos esses gestos são meus. Essa é uma pequena descrição de mim mesma. Mas, se é assim, penso ainda mais aterrorizada, se é assim, então quem entrou no quarto?
Abro os olhos devagar, o coração está prestes a romper meu peito e sair saltitando pelo chão, de tão forte que bate. O que verei ficará gravado nas minhas retinas para sempre, eu sei. Mas é inevitável. Olho o quarto ao meu redor e pasmo para a cena à minha frente.
Diante de mim, estava eu mesma. Com uma blusinha vermelha que a Adriana me deu, eu procurava alguma coisa na bolsa. Procurava vigorosamente, devia ser algo importante. Olhando aquilo, eu queria gritar, gritar com toda a força, mas não conseguia articular um movimento sequer. Não era possível.
E, na minha frente, a outra Leila continua sua busca. Depois, senta-se tranquilamente na cama e fica pensando em alguma coisa. Não consigo me convencer de que aquilo está mesmo acontecendo. Finalmente, consigo falar.
- Leila? Leila? Leila?
Repito ainda outras vezes. Mas a menina no quarto não me ouve. É como se eu não existisse. Então, gritei meu nome com toda a força que ainda tinha. E aí ela olhou para mim. Isto é, na realidade, ela apenas olhou na minha direção, como se pressentisse algo. Mas não me via. E continuou ali na cama, sem tomar conhecimento da minha presença.
(Quem se lembra do final de O Mundo de Sofia deve ter encontrado alguns ecos nessa passagem).
Então, eu tive certeza. Fomos a mesma pessoa durante a vida inteira, e agora ela não me vê, pensei com horror, e tudo pareceu desmoronar.
Mas o pior de tudo foi perceber quanto medo eu havia sentido daquela menina. Que, afinal, era eu mesma. E eu sou tão inofensiva, não tenho nada que alguém possa temer e, no entanto, quase matei de terror a mim mesma. Porquê?
(Não sei se eu estava acordada. Ou se acordei nesse momento. Mas foi o pior sonho que eu já tive. Anjo da guarda, onde você estava?)
Gata linda,tenho acompanhando as suas postagens,parabéns!Estou orgulhosa de você. O medo faz parte de nossa vida e nos faz crescer ao enfrentá-lo.Você é uma guerreira.Vai superar tudo isso com sucesso e quando terminar vai rir de si mesma. Te adoro,Madrinha Lucena.
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