"Hello, Darkness, My Old Friend".

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Conversa.

Leitores! (Claro que é apenas uma hipótese. Não sei se tenho leitores).
Há dias, reuni a coragem que julguei suficiente para ir falar com meu coordenador. Como veremos, a miséria de coragem que eu juntei não deu pra nada. Cheguei à faculdade e caminhei até a sala dele, desejando uma só coisa - algo incerto que continuo desconhecendo.
Eu tencionava ter uma conversa normal. Já tinha feito o script). Mas a verdade é que eu afrouxei. Quem diria, hein? Na frente do meu coordenador!
O quanto me permitiam os soluços e aquela coisa ruim na garganta, falei sobre as minhas dúvidas, a chateação, a ansiedade e, maior do que tudo, tragando tudo, o medo. O medo do PREX.
Não me venha dizer que eu só preciso dar o melhor de mim e ficar sossegada. SOSSEGO? Eu não quero ouvir falar em sossego! Prefiro motivos mais condizentes com a minha situação - as pragas do Egito, o choro e o ranger de dentes do Juízo Final, as provações de Jó, a miséria de Lázaro, a dor de Marta e Maria pela morte do irmão (quantas evocações bíblicas! Recentemente, li "Caim", de José Saramago, e "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski. Está explicado).
Meu coordenador me ouviu com paciência, sabendo que o meu problema era macroambiental (finalmente, um termo técnico!). Ser reprovada é um risco que você corre desde que começou a estudar, ele me replicou, e não deve se apegar a isto.
- Você não sabe lidar com a perda, é fato. E está canalizando todas as suas expectativas para o PREX.
Olhei rapidamente para ele, sem poder enxergar direito através dos olhos anuviados. Queria ter dito "Parabéns, professor. Sua conclusão foi precisa". Mas não queria me expor mais, o choro, a confissão da fraqueza, a exposição da minhas misérias (mesmo para uma figura a quem eu sei que devo satisfações) já me pareciam suficientes. Além disso, eu não conseguia segurar as lágrimas, não sei de onde tirei tantas. Depois, ele fez surgir um saco balas de goma e me obrigou a aceitá-las. Não sei como me atrevi: choro - copiosamente - as pitangas para o indivíduo (que, aliás, nada tem a ver com as benditas pitangas), e, de uma hora pra outra, tomo liberdades assim, pergunto se ele também gosta de balas de goma, subtraio do pacote só as minhas preferidas, mastigo-as com as lágrimas retardatárias ainda caindo dos olhos. Estou visivelmente desequilibrada.
Para encerrar o relato, quero registrar que meu coordenador, ciente do meu drama, disse que, se eu continuar assim, ele será obrigado a me reprovar. Se eu aprovo seu trabalho, disse, sua vida vai perder o sentido. Nesse momento, eu, que já havia mesmo perdido toda a compostura diante das balas de goma, me permiti uma risada discreta.
Confesso que, depois desta conversa, fiquei mais aliviada. Só um pouco - eu não me permito tranqüilidade.
Voltei a roer vorazmente as unhas. Deixei de escovar o cabelo. Não queria deixar de ser consumista, mas temo que também este hábito seja tragado pelo PREX. Há dias não abro as newsletters da Loja Melissa e sequer fui até a MOP ver os modelos que já estão na pré-venda.
Queria poder avançar no tempo e saber até quando esta angústia vai durar.

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