"Hello, Darkness, My Old Friend".

terça-feira, 26 de abril de 2011

Coqueiros.

"- Vocês vão ter que dar um jeito de se encontrar nas férias, terão muito o que adiantar para Agosto".

Foi assim que falou meu professor de Redação Publicitária, na aula de ontem. E eu, que naquele momento estava distraída (pensando no boato que vi na Internet, sobre a Melissa Glam Vilãs Disney ser relançada na próxima coleção), eu dei um suspiro daqueles bem longos.
Adeus, Julho cheio de redes que o vento embala nos alpendres, conversas cheias de risadas, calor estorricante, carne de sol e doce de leite.

CENA (OCORRIDA MUITAS VEZES, NUNCA RELATADA)

Uma hora da tarde, com muito esforço, percorro lentamente a pouca distância a separar a casa de Isaura da minha. É perto, mas, debaixo daquele sol, parece uma maratona. A água de coco que acabei de beber, porém, paga o cansaço.
Na minha casa, há muitos coqueiros. Alguns são baixos, permitem a colheita sem o auxílios de escadas ou varas. Na propriedade de Isaura, os coqueiros são da mesma espécie que os meus, e a terra em que são plantados é, rigorosamente, a mesma. Ainda assim, os cocos de lá sempre me pareceram mais gostosos, a doçura da água deixa na boca uma espécie de ardor que faz estalar a língua. Indescritíveis.
Para completar, desfruto da companhia de Chico Leão - para dizer o mínimo, um cabra macho, homem com tamanha firmeza de caráter só o sertão é capaz de produzir. A casa deles é quase uma extensão da minha: pai deita no chão, eu me farto de uma variedade de doces (o de siriguela, eu nem sabia da existência!), me aproveito dos esmaltes de Suana, até já caí na sala deles milhares de vezes, certa feita quase quebrei o queixo, Isaura ri até hoje.
Volto pra casa feliz, depois de tanta água, morta de preguiça e de calor. Na claridade absurda, minha casa surge como uma miragem, parece não chegar nunca. Casualmente, Mãe aparece na janela e diz:
- Minha filha, você está um carvão!
E estou. Meu corpo tem marca até da tornozeleira.
Já entro no alpendre descalça, os pés tocando a frescura reconfortante do piso. Rede ou cadeira de balanço? Oscilo. Rede. O livro já está lá dentro, afasto-o e me acomodo, descansando a vista na plantação de palmas, ouvindo ao longe o chocalhar do gado.
- Eita vida boa aperriada.

Um comentário:

  1. Parabéns, Leila! Seu trabalho é maravilhoso... Sabes que sempre admirei o seu jeito de escrever, principalmente, porque você gosta de dialogar com a Literatura. Característica que muito me impressiona e ao mesmo tempo me deixa feliz, pois, a cada leitura, enquanto você revive suas memórias, eu "regresso" para minha sala de aula.
    Parabéns!!! Sucesso!!!

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