Até que demorou. Mas essa foi a minha primeira noite varada por conta do PREX. Conversei com o meu contato da empresa que teremos como cliente (me sinto uma mulher de negócios falando assim, vou até repetir: Conversei com o meu contato da empresa que teremos como cliente) e cheguei em casa com milhões de idéias, coisas para lembrar, tópicos a escrever, dentro da minha cabeça se formava uma tempestade que ameaçava sair pelos meus olhos de pálpebras exaustas.
Quando amanheceu, eu ainda não tinha terminado. Às dez da manhã, cliquei em Salvar e fui até a padaria, com roupas e cabelos de ontem, uns e outros desarranjados e amassados. Os olhos imploravam para se fechar a qualquer pretexto. Ainda assim, o homem, tranquilamente sentado no seu degrau, disse:
- Carinha de cansada.
E eu devia mesmo estar péssima: mais além, na rua, a menina ainda de colo me apontou para a mãe e disse:
- Au-au.
Infâmia, me confundiu com um cachorro. Essas crianças de hoje não respeitam nenhuma circunstância.
Voltei para casa, tomei café e fiquei pensando. Como já fazia, tempos atrás, um poeta retado.
(Parêntesis: "- Carinha de cansada", o homem disse. Eu ri para ele, de surpresa e cansaço. Nessa rua, todos os homens de certa idade vivem querendo puxar conversa comigo.
Esse "de certa idade" designa modestamente esses tipos que por aí se chamam "tiozinhos" - esses indivíduos enxergam em mim alguma coisa que os mais jovens não percebem - afinal, a criança me confundiu com um cachorro, prova irrefutável de que a minha simpatia aumenta proporcionalmente à idade do meu observador).
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