"Hello, Darkness, My Old Friend".
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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Futuro.

Assumo de uma vez por todas: é meu diário, e não do PREX. Por mais que eu preze esse trabalho, sei que ele já regulou demais minha vida (e vai continuar assim, eu sei o quanto ainda vou chorar e me desesperar. Mas não quero pensar nisso agora).

O que eu vou viver até que minha vida desemboque no período que eu quero? Quanto falta para chegar lá? Pouco, como parece? Ou ainda vou entender Ulisses melhor do que nunca?

Agora eu tenho urgência por algo que, há tempos, venho deixando de lado - é como encontrar uma coisa que julgamos tão importante, mas tão importante, que relegamos ao esquecimento de uma gaveta, achando que ainda não é a ocasião certa para usufruir daquilo. E a minha gaveta já está cheia demais.

No final do ano (muito tempo ou pouco tempo?), o Projeto que nomeia este blog estará concluído e aprovado (assim espero). Eu terei longas, longas férias. As melhores que alguém pode ter. E depois? Depois, não vou mais querer meu quarto branco, ok, Mãe? E vou precisar desesperadamente de uma caixinha de música, não importa quanto trabalho eu tenha para encontrar uma que seja perfeita. Poucas delícias são maiores do que dar corda em uma caixinha de música.

Por um tempo, quero que meus pais esqueçam que eu tenho vinte anos. Mãe vai pentear meu cabelo antes que eu vá dormir. Pai virá me acordar, nos dias em que ele estiver em casa até mais tarde. Mãe vai comigo comprar Melissas (isso, sim, é um sonho). E eu vou deixar que ela escolha as que eu vou levar - Mãe sempre sabe. Pai e eu iremos ao Castelão, andaremos juntos nas estradas cheias de poeira, debaixo do sol sem piedade, rindo de coisas simples. Afinal, todos os cearenses são humoristas. Nem todos vivem disso, é claro. Mas todos são humoristas desde o berço, isso é certo.

Quanto tempo vai levar até que eu vá para Pasárgada?


terça-feira, 26 de abril de 2011

Coqueiros.

"- Vocês vão ter que dar um jeito de se encontrar nas férias, terão muito o que adiantar para Agosto".

Foi assim que falou meu professor de Redação Publicitária, na aula de ontem. E eu, que naquele momento estava distraída (pensando no boato que vi na Internet, sobre a Melissa Glam Vilãs Disney ser relançada na próxima coleção), eu dei um suspiro daqueles bem longos.
Adeus, Julho cheio de redes que o vento embala nos alpendres, conversas cheias de risadas, calor estorricante, carne de sol e doce de leite.

CENA (OCORRIDA MUITAS VEZES, NUNCA RELATADA)

Uma hora da tarde, com muito esforço, percorro lentamente a pouca distância a separar a casa de Isaura da minha. É perto, mas, debaixo daquele sol, parece uma maratona. A água de coco que acabei de beber, porém, paga o cansaço.
Na minha casa, há muitos coqueiros. Alguns são baixos, permitem a colheita sem o auxílios de escadas ou varas. Na propriedade de Isaura, os coqueiros são da mesma espécie que os meus, e a terra em que são plantados é, rigorosamente, a mesma. Ainda assim, os cocos de lá sempre me pareceram mais gostosos, a doçura da água deixa na boca uma espécie de ardor que faz estalar a língua. Indescritíveis.
Para completar, desfruto da companhia de Chico Leão - para dizer o mínimo, um cabra macho, homem com tamanha firmeza de caráter só o sertão é capaz de produzir. A casa deles é quase uma extensão da minha: pai deita no chão, eu me farto de uma variedade de doces (o de siriguela, eu nem sabia da existência!), me aproveito dos esmaltes de Suana, até já caí na sala deles milhares de vezes, certa feita quase quebrei o queixo, Isaura ri até hoje.
Volto pra casa feliz, depois de tanta água, morta de preguiça e de calor. Na claridade absurda, minha casa surge como uma miragem, parece não chegar nunca. Casualmente, Mãe aparece na janela e diz:
- Minha filha, você está um carvão!
E estou. Meu corpo tem marca até da tornozeleira.
Já entro no alpendre descalça, os pés tocando a frescura reconfortante do piso. Rede ou cadeira de balanço? Oscilo. Rede. O livro já está lá dentro, afasto-o e me acomodo, descansando a vista na plantação de palmas, ouvindo ao longe o chocalhar do gado.
- Eita vida boa aperriada.