"Hello, Darkness, My Old Friend".

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Acordada Ou Não?

Era um hotel. Não sei como, mas tenho certeza de que era. Eu estava com medo, tremendo de medo. A sensação insuportável de algo terrível está prestes a acontecer, independente da sua vontade.

Eu estava em uma mesinha, no canto do quarto, e choramingava de pavor quando finalmente o trinco da porta começou a se mexer. Eu olhei para trás e fiquei paralisada, por um momento tive a impressão de que ia morrer só pelo medo.

Mas não era um arrombamento. Quem quer que estivesse tentando entrar no quarto, não o fazia com violência, e sim com a naturalidade com que qualquer um entra em casa ao chegar da rua. Com a mesma aflição que eu trago ao procurar as chaves na bolsa para abrir o portão, a vontade de entrar logo em casa e me esconder do mundo.

Enquanto eu tremia, alguém do outro lado parecia experimentar várias chaves na fechadura, com uma impaciência que eu adivinhava. Podia imaginar suas pernas tremelicando de impaciência, podia ouvir as chaves balançando no chaveiro ao serem examinadas, e depois ouvia-as girar sem sucesso na tranca da porta. Eu sentia que uma das chaves ia servir, que algo entraria no quarto, e aquela fechadura que não lhe dava logo passagem prolongava meu sofrimento.

(Quem já leu Crime e Castigo deve achar essa angústia bem familiar).

Finalmente a porta se abriu. Por um momento, eu fechei os olhos, como as crianças que cobrem o rosto com as mãos e na sua inocência acreditam que assim estão camufladas (assim era Bruno). Eu ouvi os passos que chegaram até a cama e jogaram alguma coisa sobre ela, com um suspiro. Eu estou tão acostumada a esse gesto! De onde eu o conheço tão bem?

- Espera.
As pernas balançando de aflição, querendo entrar logo em casa. A bolsa imediatamente atirada sobre a cama. O suspiro de quem na realidade queria chorar. Quem faz isso sou eu. Todos esses gestos são meus. Essa é uma pequena descrição de mim mesma. Mas, se é assim, penso ainda mais aterrorizada, se é assim, então quem entrou no quarto?

Abro os olhos devagar, o coração está prestes a romper meu peito e sair saltitando pelo chão, de tão forte que bate. O que verei ficará gravado nas minhas retinas para sempre, eu sei. Mas é inevitável. Olho o quarto ao meu redor e pasmo para a cena à minha frente.

Diante de mim, estava eu mesma. Com uma blusinha vermelha que a Adriana me deu, eu procurava alguma coisa na bolsa. Procurava vigorosamente, devia ser algo importante. Olhando aquilo, eu queria gritar, gritar com toda a força, mas não conseguia articular um movimento sequer. Não era possível.
E, na minha frente, a outra Leila continua sua busca. Depois, senta-se tranquilamente na cama e fica pensando em alguma coisa. Não consigo me convencer de que aquilo está mesmo acontecendo. Finalmente, consigo falar.

- Leila? Leila? Leila?

Repito ainda outras vezes. Mas a menina no quarto não me ouve. É como se eu não existisse. Então, gritei meu nome com toda a força que ainda tinha. E aí ela olhou para mim. Isto é, na realidade, ela apenas olhou na minha direção, como se pressentisse algo. Mas não me via. E continuou ali na cama, sem tomar conhecimento da minha presença.

(Quem se lembra do final de O Mundo de Sofia deve ter encontrado alguns ecos nessa passagem).

Então, eu tive certeza. Fomos a mesma pessoa durante a vida inteira, e agora ela não me vê, pensei com horror, e tudo pareceu desmoronar.
Mas o pior de tudo foi perceber quanto medo eu havia sentido daquela menina. Que, afinal, era eu mesma. E eu sou tão inofensiva, não tenho nada que alguém possa temer e, no entanto, quase matei de terror a mim mesma. Porquê?


(Não sei se eu estava acordada. Ou se acordei nesse momento. Mas foi o pior sonho que eu já tive. Anjo da guarda, onde você estava?)


domingo, 15 de maio de 2011

Noturno.

(Escrevi essa postagem quando ainda não me preocupava com o PREX: em outubro/novembro de 2010, eu tinha apenas uns três trabalhos para fazer, além do PIC - Projeto Integrado de Comunicação. Naquele momento, essas tarefas me enlouqueciam. Diante das que eu tenho agora, são só insignificâncias. Não fiz nenhuma alteração no texto. Gostei dele assim, me lembrou de épocas em que meus olhos ficavam secos por mais tempo).

Eis o artigo:


Eu tenho (ou tinha) um blog que nasceu noturno. Este aqui, ao contrário, nasceu da claridade de uma tarde de sol.

O noturno, eu fiz durante uma semana em que quase não conseguia terminar um trabalho importante (pelo qual meu professor me deu 9.5 de nota). Este aqui, eu criei por dois motivos – meu gosto pela escrita é o primeiro deles. O segundo é um blog criado pelo Paulo Henricky (consultor particular dos meus trabalhos, com as melhores dicas, as melhores idéias, a melhor companhia para as madrugadas insones no MSN, a criatividade que eu gostaria de ter e, claro, um blog: euprodutor.wordpress.com). O “Henricky” do nome dele é assim mesmo que se escreve, mas não tenho muita certeza de como se lê. Tomara que ele não se importe.

Enfim, indiretamente – e sem saber -, ele me ajudou a criar esta página. A idéia de querer sumir é minha mesmo, minha e de mais um monte de gente.

Enfim, este blog não é noturno. Mas o título desse artigo, a pessoa que me inspirou a escrevê-lo e os muitos trabalhos que ainda farei de madrugada são.

Até a próxima postagem.


(Confesso que essa parte que se refere aos muitos trabalhos que ainda teria que fazer pelas madrugadas afora me soou bem familiar).

sábado, 14 de maio de 2011

Repetições.

(Tenho as mesmas fraquezas que todo mundo tem. Só não consigo aceitar que eu seja assim).

Este blog está prestes a se tornar mais didático, eu garanto. Por ora, é apenas uma página repleta de confidências inúteis, de uma estudante inútil, à beira de um ataque inútil que não vai me levar a nada.

Estou preocupada com os prazos e informações que precisam estar presentes no meu PREX. Preocupada em emagrecer mais. Preocupada com as pessoas com quem eu convivo e com a ruína em que está se tornando a minha relação com elas. Preocupada com o que está acontecendo comigo e eu nem sei o que é.

Sábado e Domingo de semana passada foram dias quentes. Nunca senti tanto frio na minha vida, eu que sou calorenta. Dormi na casa da minha avó, debaixo de três cobertores que me sufocaram a noite inteira, contribuindo para o aumento da ordinária dose de pesadelos.

Sempre tive medo de dormir sozinha, confesso. Durmo com minha mãe desde que nasci. E, agora, eu consigo chegar em casa, ir direto para o quarto e adormecer instantaneamente sem sequer acender as luzes, a despeito do escuro e das portas abertas.

É bom ficar sozinho. Para mim, é sempre a melhor alternativa. Mas só serve quando é uma escolha - quando, por vontade própria, se fabrica uma solidão, mesmo estando cercado de gente. Quando não se tem outra saída, é bem diferente.

Estou esgotada, Mãe. Vem me pôr para dormir.

sábado, 7 de maio de 2011

Beleza.

Você pensa que eu acho bonito agarrar o computador (aliás, com muita dificuldade) e caminhar uns dois quilômetros, morrendo de calor e cansaço, ouvindo os gracejos dos peões nas ruas?

Pois saiba que eu não acho nada bonita essa atitude. Sem um pingo de glamour mesmo.

Mas foi o que eu tive que fazer. Meu computador foi infectado por um vírus para o qual eu não conseguia achar remédio. Aí, a única alternativa que me restou foi pegar a CPU e sair desesperada pelas ruas. (Dramático, não? Devia ter chamado o SAMU!).

Acontece que eu tenho um PREX para fazer! Não posso ficar desconectada nem um dia! Na quarta-feira, quando o problema surgiu, eu quase não consegui dormir e fiz as mais absurdas considerações a respeito do tal vírus e de suas consequências.

Sou exagerada, sou imediatista, acho que terei um surto antes do final do ano.

Na quinta feira de manhã, tentei ligar para um técnico que eu já conheço. Não consegui e fiz mais umas quinhentas tentativas, todas falhadas. Então, peguei o computador e saí loucamente à procura de uma lan house perto da casa da minha vó, onde fazem este tipo de serviço. Descobri que a fonte precisava ser trocada, também. E que o ideal seria uma formatação. Pensei rapidamente em quanto tudo aquilo ia me custar e pedi o trabalho completo. Voltei pra casa enjoada, com vontade de chorar, a cabeça latejando incrivelmente.

Um cavalo galopava desenfreado sobre o meu cérebro.

Ontem, fui buscar o computador. Está novo em folha. Minha biblioteca de músicas, conquistada à custa de muito trabalho, já não existe. Bem feito, não custa nada gravar em um pen drive. Estou um pouco melhor. A dor de cabeça não passou, o enjoo também não. E eu lembro intermitentemente desta passagem com Helene Amundsen e sua filha, a protagonista de "O Mundo de Sofia", durante uma tempestade:

"- O que está acontecendo comosco, minha filha?
- Não sei, respondeu Sofia. É como viver um pesadelo".

Eu também não sei o que está acontecendo comigo. E essa tempestade simboliza muito para mim.

Confissão. I

Eu queria escrever um artigo para falar de três pessoas:

Arthur Muller Justino;
Marcio Sodano Filho;
Felipe Segobi.

Mas eu não consegui achar as palavras. Então, só me resta confessar que ontem (ontem foi a apresentação oficial da nossa agência, a Oxigene Comunicação) eu senti tanto orgulho desses meninos que me deu vontade de chorar. E eu devia mesmo ter chorado - sou a única menina do grupo, as circunstâncias me permitem alguns excessos.

Em casa, fiquei pensando em tudo que já vivi com essa equipe. Relembrei a minha contratação polêmica (esse é um assunto que vai render algumas postagens futuras), a aflição da busca de clientes, as reuniões, a quantidade absurda de besteira que sai da nossa boca todos as noites. De novo, senti vontade de chorar. De pura alegria.

Nenhum desses meninos sabe (talvez fiquem sabendo, caso leiam esta postagem) que o nome deles fica na minha cabeça o dia inteiro. O tempo que antecede a conclusão de cada etapa desse trabalho faz com que meus pensamentos (repletos de informações sobre Planejamento de Campanha, Pesquisa de Mercado, Briefing, Roteiro de Diagnósticos e afins) se demorem em cada um deles, e eu não posso evitar uma prece que meu coração automaticamente começa a formular.

E, ontem, depois da apresentação, tudo que eu queria era abraçar cada um deles, tentando dizer sem palavras o quanto eles são importantes para mim, o quando confio neles, o quanto estou orgulhosa por pertencer à Agência que eu gostaria de ter integrado desde sempre. É, confessei.

Eu sei que eu não devia ouvir aquelas barbaridades que eles conversam, que eu não devia ter aprendido a falar uma ou outra palavra de baixo calão de vem em quando, sei que estou ficando mais maliciosa e crítica, mais impiedosa - estou com medo de que talvez eu vire homem até o final do ano. Mas, sabem de uma coisa? Eu nunca pensei que pudesse aprender tanto com vocês. E essa agência foi uma das melhores surpresas que este ano me reservou.

(SE FORMOS REPROVADOS NO FIM DO ANO, PODEM TER CERTEZA DE QUE NÃO HÁ AMIZADE NEM ADMIRAÇÃO CAPAZES DE IMPEDIR QUE EU MATE VOCÊS BEM LENTAMENTE!).

terça-feira, 26 de abril de 2011

Coqueiros.

"- Vocês vão ter que dar um jeito de se encontrar nas férias, terão muito o que adiantar para Agosto".

Foi assim que falou meu professor de Redação Publicitária, na aula de ontem. E eu, que naquele momento estava distraída (pensando no boato que vi na Internet, sobre a Melissa Glam Vilãs Disney ser relançada na próxima coleção), eu dei um suspiro daqueles bem longos.
Adeus, Julho cheio de redes que o vento embala nos alpendres, conversas cheias de risadas, calor estorricante, carne de sol e doce de leite.

CENA (OCORRIDA MUITAS VEZES, NUNCA RELATADA)

Uma hora da tarde, com muito esforço, percorro lentamente a pouca distância a separar a casa de Isaura da minha. É perto, mas, debaixo daquele sol, parece uma maratona. A água de coco que acabei de beber, porém, paga o cansaço.
Na minha casa, há muitos coqueiros. Alguns são baixos, permitem a colheita sem o auxílios de escadas ou varas. Na propriedade de Isaura, os coqueiros são da mesma espécie que os meus, e a terra em que são plantados é, rigorosamente, a mesma. Ainda assim, os cocos de lá sempre me pareceram mais gostosos, a doçura da água deixa na boca uma espécie de ardor que faz estalar a língua. Indescritíveis.
Para completar, desfruto da companhia de Chico Leão - para dizer o mínimo, um cabra macho, homem com tamanha firmeza de caráter só o sertão é capaz de produzir. A casa deles é quase uma extensão da minha: pai deita no chão, eu me farto de uma variedade de doces (o de siriguela, eu nem sabia da existência!), me aproveito dos esmaltes de Suana, até já caí na sala deles milhares de vezes, certa feita quase quebrei o queixo, Isaura ri até hoje.
Volto pra casa feliz, depois de tanta água, morta de preguiça e de calor. Na claridade absurda, minha casa surge como uma miragem, parece não chegar nunca. Casualmente, Mãe aparece na janela e diz:
- Minha filha, você está um carvão!
E estou. Meu corpo tem marca até da tornozeleira.
Já entro no alpendre descalça, os pés tocando a frescura reconfortante do piso. Rede ou cadeira de balanço? Oscilo. Rede. O livro já está lá dentro, afasto-o e me acomodo, descansando a vista na plantação de palmas, ouvindo ao longe o chocalhar do gado.
- Eita vida boa aperriada.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Quase.

É um Blog destinado a tratar só de um assunto: o PREX (juro que nunca mais vou querer ouvir o som desta quatro letras quando terminar esta tarefa). Mesmo assim, eu nunca mais falei do trabalho propriamente dito. Logo, vocês podem concluir que eu estou mais tranquila.

- Mais tranquila?

(Hesito; gaguejo):

- É, quase.

Para ser franca, esta semana foi uma das mais sossegadas, desde o início das atividades relacionadas ao Projeto. Sei que podia adiantar o quanto possível algumas etapas, ler algumas matérias relacionadas ao assunto, enfim. Mas, entendam: EU PRECISO SABOREAR A TRANQUILIDADE! Nem imaginava que ainda fosse capaz de ter essa sensação.

Aproveitei esses últimos sete dias para ler Tieta do Agreste - Pastora de Cabras. Fiquei muito triste. Santana do Agreste (cidadezinha do litoral baiano onde é passada a narrativa) me relembrou a beleza incomparável da vida no interior nordestino. Beleza que eu não vou tentar descrever por um só motivo: tal descrição é impossível, ninguém pode se atrever a falar sobre este assunto através de simples artigo, é sandice.
Mas, se quiser saber, pegue suas tralhas e corra pra lá, saberá qual é o nó que subjuga língua e pensamento e impede a descrição precisa dos aspectos daquela terra.

(Sim, sim, sou uma provinciana e disso muito me orgulho).

Pois é, esta semana eu me empenhei para ficar despreocupada - esforço que, naturalmente, já descaracteriza a minha suposta tranquilidade.
Nem as provas atrapalharam minha beatitude. Nunca estudei para nenhuma prova e não foi desta vez que violei esta regra que sigo cegamente, é uma das poucas.
Mas, ao menos, resolvi dezenas de palavras cruzadas, fui ao cinema, dei muita risada com tia Ângela e com Ricardo, comecei a leitura do primeiro tomo de "Os Irmãos Karamázov" e acordei tarde todos os dias.
Por falar nisso:

Trrrrm, trrrrmm, trrrrrrrrmmm... "slip inside the eye of your mind"...

Acordo devagar, estava tão bom o meu sonho! Que, na certa, era com alguma gulodice - emagrecer é terrível. Atendo:

- Ooooi, Pai!
(disfarço, mas sei que ele vai perceber a voz de sono).

- Faaaala, Nega! Dormindo?

Mesmo com todos esses quilômetros de distância, sinto o ar de gozação dele. São quase dez horas da manhã. Fico com vergonha de confessar minha vagabundagem e respondo, reticente:

- Ééé, mais ou menos.

- Nega safada!
(assim disse Pai, e deu sua risada irresistível).



É, "amanhã é outro dia!", já falava o açougueiro (coincidência?) de um livro delicioso do Domingos Pellegrini.
E eu concordo.