"Hello, Darkness, My Old Friend".

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Remédio.

"Para, meu coração. Deixa o pensar na cabeça".

Assim disse Fernando Pessoa. Na verdade, um de seus heterônimos - li "Mensagem" (pela milésima vez) no sábado. Mesmo sabendo que não tenho mais tempo para essas coisas.

A aflição me deu insônia. Não posso mais suportar o sentimento permanente de "não está certo"; a voz que diz "você devia ter se esforçado mais, Leila. Agora, seu trabalho vai ser reprovado e você vai ficar mais e mais tempo longe de casa". O sono acumulado das duas semanas quase sem dormir não é suficiente para que eu possa adormecer em paz.

Não nego que estar aflito pode ser uma motivação. Mas o preço, meu Deus, o preço é alto demais. E eu estou farta de fingir que eu aguento.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Conhecimento.

Ontem, fiquei pensando no quanto é possível aprender com as pessoas ao nosso redor. No conhecimento que a vida nos dá a chance de adquirir, e desprezamos.

Tenho tanto para aprender! Inclusive com pessoas que nunca foram à escola por um dia sequer. Talvez eu nunca consiga alcançar nem um terço da ciência de Rogério - vaqueiro desde a infância. De Chico Leão, que jamais pôs os pés fora do Nordeste e sempre viveu da agricultura. Do falecido Otílio - que via os produtos da modernidade com um assombro ingênuo e sincero de que poucos filósofos seriam capazes.

Sei que não tenho comparação com estas pessoas.

E foi pensando assim que, finalmente, consegui me encontrar em um meio-termo. Sabe, eu gosto de ler Dostoiévski. Mas quão melhor é ler Dostoiévski nos alpendres da minha casa! No sertão, cercada pela aridez deslumbrante - em um lugar onde noções teológicas e filosóficas não são vitais e a vida acontece plena na sua simplicidade.

Quando o livro acaba ou a leitura cansa, posso ficar olhando pro céu, que fica laranja todos os fins de tarde, quando o sol se põe. E ter a certeza de que "a vida é uma agitação feroz e sem finalidade", mas, mesmo assim, há tantas coisas apreciáveis nela, e que são ainda mais bonitas porque não precisam de compêndios científicos.

Isso é viver, minha gente. E viver pode ser tão bom quanto uma manga rosa. Daquelas que você tira do pé e come ali mesmo, na sombra da mangueira. Olhando para os passarinhos, que não são racionais, e entretanto sabem apreciar melhor do que nós uma manga madura.

(Alberto Caeiro, você está me manipulando!)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mestres.

Essa será mais uma noite que irei atravessar incrementando meu briefing. Portanto, tenho que postar antes que comece a maratona. Escrevi ontem, esperando a aula começar. Lá vai:

Hoje não tem aula e ninguém me avisou? Por acaso explodiram o campus? Algum vírus altamente contagioso foi detectado no Tatuapé? Confesso que não queria que nada disso acontecesse. Queria apenas já estar formada, pronto.

Na rua, andando do ponto de ônibus até a faculdade, eu sempre imagino que não vai ter aula. Para me consolar. Nos meus melhores devaneios, fantasio que as aulas serão suspensas por uma semana. Depois, termino me convencendo de que isso não vai acontecer. Aqui não é Ramsdale e o entorno do campus só está assim vazio porque eu chego cedo demais.

Sou meio sistemática com alguns horários. Se for para me atrasar, prefiro nem ir. Confesso que só me comporto dessa maneira com coisas que são muito importantes para mim - indiretamente, acabo de demonstrar o quanto considero as aulas importantes.

Chegando mais cedo à Faculdade eu conheci mais e melhor todos os meus professores. E desenvolvi por eles aquela mesma admiração velada que eu sentia, quando criança, pelas princesas dos contos - por mais que as venerasse, eu sabia que dificilmente seria como elas. Sempre ia faltar algo de sublime que a minha natureza imperfeita jamais me permitiria possuir. Tanto tempo depois dos contos de fada, voltei a ter essa sensação.

Confesso que queria ter aprendido mais com cada um dos professores que já tive. Sei que não posso voltar atrás e, além disso, seria difícil aprender mais do que aprendi nas aulas - eu sempre prestei uma atenção inabalável (ou quase) às palavras que saíam da boca dos meus educadores. Acho que devia era ter conversado com eles. Perguntado mais (não me perdoo pelas vezes em que acintosamente consultei o relógio diante deles, rezando para que o sinal tocasse logo). Quantas oportunidades perdi de dizer o quanto os admirava?

Tento me consolar pensando que ainda dá tempo de conversar com cada um. E agradecer. Dizer o quanto cresci com a sabedoria que eles me deram e que o meu sonho é ser um pouco mais como eles. Ler os livros que eles leram, ver os filmes que eles viram, me dedicar arduamente ao estudo de tantas ciências interessantes, como eles se dedicaram. Não sei se consigo me aplicar tanto. Mas gostaria.

Enfim, continua a minha busca por aquela coisa sublime indefinível, cuja falta não me permite ser como a Wendy. Ou como a sereiazinha do conto homônimo de Hans Christian Andersen. Ou como os meus professores - seres reais, ainda assim inalcançáveis.

Nota: Se você não entendeu a citação à Ramsdale... Você não sabe o que está perdendo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Acordada Ou Não?

Era um hotel. Não sei como, mas tenho certeza de que era. Eu estava com medo, tremendo de medo. A sensação insuportável de algo terrível está prestes a acontecer, independente da sua vontade.

Eu estava em uma mesinha, no canto do quarto, e choramingava de pavor quando finalmente o trinco da porta começou a se mexer. Eu olhei para trás e fiquei paralisada, por um momento tive a impressão de que ia morrer só pelo medo.

Mas não era um arrombamento. Quem quer que estivesse tentando entrar no quarto, não o fazia com violência, e sim com a naturalidade com que qualquer um entra em casa ao chegar da rua. Com a mesma aflição que eu trago ao procurar as chaves na bolsa para abrir o portão, a vontade de entrar logo em casa e me esconder do mundo.

Enquanto eu tremia, alguém do outro lado parecia experimentar várias chaves na fechadura, com uma impaciência que eu adivinhava. Podia imaginar suas pernas tremelicando de impaciência, podia ouvir as chaves balançando no chaveiro ao serem examinadas, e depois ouvia-as girar sem sucesso na tranca da porta. Eu sentia que uma das chaves ia servir, que algo entraria no quarto, e aquela fechadura que não lhe dava logo passagem prolongava meu sofrimento.

(Quem já leu Crime e Castigo deve achar essa angústia bem familiar).

Finalmente a porta se abriu. Por um momento, eu fechei os olhos, como as crianças que cobrem o rosto com as mãos e na sua inocência acreditam que assim estão camufladas (assim era Bruno). Eu ouvi os passos que chegaram até a cama e jogaram alguma coisa sobre ela, com um suspiro. Eu estou tão acostumada a esse gesto! De onde eu o conheço tão bem?

- Espera.
As pernas balançando de aflição, querendo entrar logo em casa. A bolsa imediatamente atirada sobre a cama. O suspiro de quem na realidade queria chorar. Quem faz isso sou eu. Todos esses gestos são meus. Essa é uma pequena descrição de mim mesma. Mas, se é assim, penso ainda mais aterrorizada, se é assim, então quem entrou no quarto?

Abro os olhos devagar, o coração está prestes a romper meu peito e sair saltitando pelo chão, de tão forte que bate. O que verei ficará gravado nas minhas retinas para sempre, eu sei. Mas é inevitável. Olho o quarto ao meu redor e pasmo para a cena à minha frente.

Diante de mim, estava eu mesma. Com uma blusinha vermelha que a Adriana me deu, eu procurava alguma coisa na bolsa. Procurava vigorosamente, devia ser algo importante. Olhando aquilo, eu queria gritar, gritar com toda a força, mas não conseguia articular um movimento sequer. Não era possível.
E, na minha frente, a outra Leila continua sua busca. Depois, senta-se tranquilamente na cama e fica pensando em alguma coisa. Não consigo me convencer de que aquilo está mesmo acontecendo. Finalmente, consigo falar.

- Leila? Leila? Leila?

Repito ainda outras vezes. Mas a menina no quarto não me ouve. É como se eu não existisse. Então, gritei meu nome com toda a força que ainda tinha. E aí ela olhou para mim. Isto é, na realidade, ela apenas olhou na minha direção, como se pressentisse algo. Mas não me via. E continuou ali na cama, sem tomar conhecimento da minha presença.

(Quem se lembra do final de O Mundo de Sofia deve ter encontrado alguns ecos nessa passagem).

Então, eu tive certeza. Fomos a mesma pessoa durante a vida inteira, e agora ela não me vê, pensei com horror, e tudo pareceu desmoronar.
Mas o pior de tudo foi perceber quanto medo eu havia sentido daquela menina. Que, afinal, era eu mesma. E eu sou tão inofensiva, não tenho nada que alguém possa temer e, no entanto, quase matei de terror a mim mesma. Porquê?


(Não sei se eu estava acordada. Ou se acordei nesse momento. Mas foi o pior sonho que eu já tive. Anjo da guarda, onde você estava?)


domingo, 15 de maio de 2011

Noturno.

(Escrevi essa postagem quando ainda não me preocupava com o PREX: em outubro/novembro de 2010, eu tinha apenas uns três trabalhos para fazer, além do PIC - Projeto Integrado de Comunicação. Naquele momento, essas tarefas me enlouqueciam. Diante das que eu tenho agora, são só insignificâncias. Não fiz nenhuma alteração no texto. Gostei dele assim, me lembrou de épocas em que meus olhos ficavam secos por mais tempo).

Eis o artigo:


Eu tenho (ou tinha) um blog que nasceu noturno. Este aqui, ao contrário, nasceu da claridade de uma tarde de sol.

O noturno, eu fiz durante uma semana em que quase não conseguia terminar um trabalho importante (pelo qual meu professor me deu 9.5 de nota). Este aqui, eu criei por dois motivos – meu gosto pela escrita é o primeiro deles. O segundo é um blog criado pelo Paulo Henricky (consultor particular dos meus trabalhos, com as melhores dicas, as melhores idéias, a melhor companhia para as madrugadas insones no MSN, a criatividade que eu gostaria de ter e, claro, um blog: euprodutor.wordpress.com). O “Henricky” do nome dele é assim mesmo que se escreve, mas não tenho muita certeza de como se lê. Tomara que ele não se importe.

Enfim, indiretamente – e sem saber -, ele me ajudou a criar esta página. A idéia de querer sumir é minha mesmo, minha e de mais um monte de gente.

Enfim, este blog não é noturno. Mas o título desse artigo, a pessoa que me inspirou a escrevê-lo e os muitos trabalhos que ainda farei de madrugada são.

Até a próxima postagem.


(Confesso que essa parte que se refere aos muitos trabalhos que ainda teria que fazer pelas madrugadas afora me soou bem familiar).

sábado, 14 de maio de 2011

Repetições.

(Tenho as mesmas fraquezas que todo mundo tem. Só não consigo aceitar que eu seja assim).

Este blog está prestes a se tornar mais didático, eu garanto. Por ora, é apenas uma página repleta de confidências inúteis, de uma estudante inútil, à beira de um ataque inútil que não vai me levar a nada.

Estou preocupada com os prazos e informações que precisam estar presentes no meu PREX. Preocupada em emagrecer mais. Preocupada com as pessoas com quem eu convivo e com a ruína em que está se tornando a minha relação com elas. Preocupada com o que está acontecendo comigo e eu nem sei o que é.

Sábado e Domingo de semana passada foram dias quentes. Nunca senti tanto frio na minha vida, eu que sou calorenta. Dormi na casa da minha avó, debaixo de três cobertores que me sufocaram a noite inteira, contribuindo para o aumento da ordinária dose de pesadelos.

Sempre tive medo de dormir sozinha, confesso. Durmo com minha mãe desde que nasci. E, agora, eu consigo chegar em casa, ir direto para o quarto e adormecer instantaneamente sem sequer acender as luzes, a despeito do escuro e das portas abertas.

É bom ficar sozinho. Para mim, é sempre a melhor alternativa. Mas só serve quando é uma escolha - quando, por vontade própria, se fabrica uma solidão, mesmo estando cercado de gente. Quando não se tem outra saída, é bem diferente.

Estou esgotada, Mãe. Vem me pôr para dormir.

sábado, 7 de maio de 2011

Beleza.

Você pensa que eu acho bonito agarrar o computador (aliás, com muita dificuldade) e caminhar uns dois quilômetros, morrendo de calor e cansaço, ouvindo os gracejos dos peões nas ruas?

Pois saiba que eu não acho nada bonita essa atitude. Sem um pingo de glamour mesmo.

Mas foi o que eu tive que fazer. Meu computador foi infectado por um vírus para o qual eu não conseguia achar remédio. Aí, a única alternativa que me restou foi pegar a CPU e sair desesperada pelas ruas. (Dramático, não? Devia ter chamado o SAMU!).

Acontece que eu tenho um PREX para fazer! Não posso ficar desconectada nem um dia! Na quarta-feira, quando o problema surgiu, eu quase não consegui dormir e fiz as mais absurdas considerações a respeito do tal vírus e de suas consequências.

Sou exagerada, sou imediatista, acho que terei um surto antes do final do ano.

Na quinta feira de manhã, tentei ligar para um técnico que eu já conheço. Não consegui e fiz mais umas quinhentas tentativas, todas falhadas. Então, peguei o computador e saí loucamente à procura de uma lan house perto da casa da minha vó, onde fazem este tipo de serviço. Descobri que a fonte precisava ser trocada, também. E que o ideal seria uma formatação. Pensei rapidamente em quanto tudo aquilo ia me custar e pedi o trabalho completo. Voltei pra casa enjoada, com vontade de chorar, a cabeça latejando incrivelmente.

Um cavalo galopava desenfreado sobre o meu cérebro.

Ontem, fui buscar o computador. Está novo em folha. Minha biblioteca de músicas, conquistada à custa de muito trabalho, já não existe. Bem feito, não custa nada gravar em um pen drive. Estou um pouco melhor. A dor de cabeça não passou, o enjoo também não. E eu lembro intermitentemente desta passagem com Helene Amundsen e sua filha, a protagonista de "O Mundo de Sofia", durante uma tempestade:

"- O que está acontecendo comosco, minha filha?
- Não sei, respondeu Sofia. É como viver um pesadelo".

Eu também não sei o que está acontecendo comigo. E essa tempestade simboliza muito para mim.

Confissão. I

Eu queria escrever um artigo para falar de três pessoas:

Arthur Muller Justino;
Marcio Sodano Filho;
Felipe Segobi.

Mas eu não consegui achar as palavras. Então, só me resta confessar que ontem (ontem foi a apresentação oficial da nossa agência, a Oxigene Comunicação) eu senti tanto orgulho desses meninos que me deu vontade de chorar. E eu devia mesmo ter chorado - sou a única menina do grupo, as circunstâncias me permitem alguns excessos.

Em casa, fiquei pensando em tudo que já vivi com essa equipe. Relembrei a minha contratação polêmica (esse é um assunto que vai render algumas postagens futuras), a aflição da busca de clientes, as reuniões, a quantidade absurda de besteira que sai da nossa boca todos as noites. De novo, senti vontade de chorar. De pura alegria.

Nenhum desses meninos sabe (talvez fiquem sabendo, caso leiam esta postagem) que o nome deles fica na minha cabeça o dia inteiro. O tempo que antecede a conclusão de cada etapa desse trabalho faz com que meus pensamentos (repletos de informações sobre Planejamento de Campanha, Pesquisa de Mercado, Briefing, Roteiro de Diagnósticos e afins) se demorem em cada um deles, e eu não posso evitar uma prece que meu coração automaticamente começa a formular.

E, ontem, depois da apresentação, tudo que eu queria era abraçar cada um deles, tentando dizer sem palavras o quanto eles são importantes para mim, o quando confio neles, o quanto estou orgulhosa por pertencer à Agência que eu gostaria de ter integrado desde sempre. É, confessei.

Eu sei que eu não devia ouvir aquelas barbaridades que eles conversam, que eu não devia ter aprendido a falar uma ou outra palavra de baixo calão de vem em quando, sei que estou ficando mais maliciosa e crítica, mais impiedosa - estou com medo de que talvez eu vire homem até o final do ano. Mas, sabem de uma coisa? Eu nunca pensei que pudesse aprender tanto com vocês. E essa agência foi uma das melhores surpresas que este ano me reservou.

(SE FORMOS REPROVADOS NO FIM DO ANO, PODEM TER CERTEZA DE QUE NÃO HÁ AMIZADE NEM ADMIRAÇÃO CAPAZES DE IMPEDIR QUE EU MATE VOCÊS BEM LENTAMENTE!).